Os paralímpicos e o caseiro

Até pela nítida divisão em quatro atos, PARATODOS não disfarça sua vocação de minissérie de TV sobre desportistas paralímpicos. Três atletas das pistas de corrida, dois astros da paracanoagem, o time de futebol de cegos e dois nadadores são vistos às voltas com os treinamentos e as emoções das competições. Alguns são acompanhados durante os anos recentes, no Brasil e em provas no exterior, enquanto se preparam e passam pelos torneios que antecedem os próximos Jogos Paralímpicos.

São virtudes inegáveis do documentário de Marcelo Mesquita o bom nível técnico das filmagens e a competência da montagem em fornecer uma síntese de cada caso. De resto, lá estão os temas esperados de filmes sobre esse assunto: perseverança, superação, eventuais decepções, autocobranças e o permanente alto astral dos atletas paralímpicos. Duas exceções quebram esse padrão: a questão das classificações funcionais (as diversas categorias de acordo com o tipo de deficiência), que influenciam nos resultados, explorada no episódio sobre os remadores; e o detalhamento das regras e macetes do “futebol de 5”. Aqui, a descontração dos jogadores provê os momentos mais curiosos e divertidos do filme, além de trazer à tona uma particularidade dos documentários sobre deficientes visuais: a não visualização da equipe produz um “esquecimento” e uma exposição menos controlada por parte dos personagens.



Foto001O CASEIRO lida bem com a gramática do filme de suspense sobrenatural. Um professor especializado em explicar aparições de fantasmas através da psicanálise é convidado por uma aluna a investigar os misteriosos espancamentos sofridos pela sua irmã menor. A família acredita que o responsável é um antigo caseiro do sítio, já falecido. Até aí, tudo bem. O que assombra e afasta um resultado melhor é o entendimento equivocado de que, num filme desse gênero, todos os personagens devem parecer esquisitos, suspeitos e enigmáticos. O comportamento da família perante o convidado não se mostra minimamente natural, espalhando um rastro de falsas expectativas que, em vez de despertar interesse, coloca o espectador num jogo de vale-tudo. Se tudo é possível esperar, nada se espera de fato.

Entre referências cênicas a “O Iluminado” e um cumprimento especial a “O Sexto Sentido”, o filme de Julio Santi (“O Circo da Noite”) impressiona mais pelo bom trabalho de direção, a fotografia sugestiva de Uli Burtin e a trilha gótica de Tomaz Vital do que pelas reviravoltas em torno do fatídico caseiro, uma boneca de pano e um cordão de metal.

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