Depois de uma temporada bem sucedida em São Paulo, estreou semana passada no CCBB-Rio a peça FLUXORAMA. Por um lado, esta montagem segue o modelo de episódios adotado por Monique Gardenberg em espetáculos recentes como “O Desaparecimento do Elefante” e “5 x Comédia”. Mas o material original do dramaturgo Jô Bilac traz um desafio a mais em matéria de encenação. Trata-se de quatro monólogos em que os personagens estão em situações-limite tanto física quanto mentalmente. A radicalidade da performance, portanto, é parte da proposta.
O primeiro episódio, com Deborah Evelyn no papel de uma mulher que viu seus sentidos irem desaparecendo um a um, é o que se sustenta numa partitura cênica mais convencional. No segundo, Luiz Henrique Nogueira atua imobilizado no assento de um carro recém-acidentado, tendo visíveis somente o rosto, o pescoço e parte do peito. Através dessa diminuta janela ele transmite o desespero e os delírios que antecedem a morte. Marjorie Estiano conquista a plateia como uma maratonista arrependida que precisa completar pelo menos uma coisa nessa vida. Por fim, Emilio de Mello arrasa na pele de um homem que se esforça por relaxar e meditar em meio às demandas da vida urbana.
O que fascina nos textos de Jô Bilac é a convivência do trágico e do cômico, do sublime e do banal, numa lógica própria do fluxo de consciência. Na direção da minha irmã Monique (que assina também a iluminação), impressiona a pontuação precisa de cada filigrana desse fluxo, fazendo com que o texto pareça mais brotar das entranhas do ator do que de um processo mnemônico comum. O elenco responde magistralmente a cada solicitação do texto e visivelmente colabora com suas próprias inflexões. A música inédita de Philip Glass, mais que um luxo adicional, é um adendo à suave profundidade da peça.