O assunto está fervendo no movimento feminista, nos coletivos de arte política, nas manifestações de rua, nos corredores da Globo e – por que não? – no cinema. A Mostra do Filme Livre exibiu o curta O Mais Barulhento Silêncio, de Marccela Moreno, com atrizes performando relatos de mulheres vítimas de estupro. No É Tudo Verdade, outro curta, Se Você Contar, de Roberta Fernandes, trouxe mulheres relatando casos de abuso sexual. Todas eram vítimas, mas nem todas contavam a sua própria história, de acordo com um padrão advindo de Jogo de Cena, de Coutinho. Ainda outra diretora, Sandra Werneck, apresentou o longa Mexeu com uma, Mexeu com Todas, em que não há mediação de qualquer espécie. São sete mulheres relatando suas próprias histórias de estupro, abuso sexual e agressão masculina.
Algumas são famosas, como Luiza Brunet (foto acima) e a escritora Clara Averbuck. Duas outras deram seus nomes a leis de proteção da mulher: a bioquímica Maria da Penha e a nadadora Joanna Maranhão. As demais são uma professora, uma cabeleireira e uma doméstica. Ao contrário de Meninas, seu filme sobre gravidez adolescente, Sandra aqui se limita a colher os depoimentos e inserir cenas de atos públicos de mulheres.
Faz falta alguma elaboração para que os relatos resultassem numa reflexão mais densa e complexa sobre os fatores sociais, psicológicos e jurídicos envolvidos. Os depoimentos intercalados não colaboram para uma maior proximidade com a história de cada uma, gerando elipses que prejudicam a compreensão dos fatos e seus desdobramentos, sobretudo nos casos de Maria da Penha e Joanna. Assim, o filme soma dados e impressões sobre o tema da violência contra a mulher, podendo ser – como de fato é – um bom programa de esclarecimento para a televisão, mas não traz visões nem argumentos novos.
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