Ao que tudo indica, os espíritos serão a salvação do cinema brasileiro em 2010. Chico Xavier já bate recorde de arrancada nos novos tempos e mostra um Daniel Filho cada vez mais próximo do cinema. É bem verdade que, vez por outra, a TV o puxa de novo para trás, como nas cenas envolvendo Chico e os padres. Mas é um filme com certa potência, especialmente no trecho protagonizado por Ângelo Antonio.
A onda espiritista tem formato de dinastia. Tudo começou com o fraquíssimo Bezerra de Menezes, visto por mais de 500 mil espectadores. Do pioneiro passamos agora ao seu mais famoso discípulo, Chico Xavier, que em menos de uma semana já atraiu mais de 600 mil pagantes. Em seguida, virão adaptações de obras de Chico (ou psicografadas por ele). Vários projetos são patrocinados ou apoiados pela Federação Espírita Brasileira.
A lista dos filmes em produção não é pequena:
– Nosso Lar, de Wagner de Assis: baseado na história de um médico escrita por Chico Xavier. Uma superprodução brasileira cujo trailer está deixando o país boquiaberto.
– As Mães de Chico Xavier, de Glauber Filho (diretor de Bezerra de Menezes): três mães procuram Chico após a morte dos filhos. Nelson Xavier retoma o papel do médium.
– As Cartas, de Cristiana Grumbach: doc sobre pais e mães que tiveram contato com os espíritos de seus filhos através das cartas psicografadas por Chico.
– E a Vida Continua, de Paulo Figueiredo, com Lima Duarte: baseado em livro psicografado por Chico.
– O Filme dos Espíritos, de André Morouço, com Sandra Corveloni: baseado no Livro dos Espíritos, de Alan Kardec.
– Área Q, de Gerson Sanginitto: história envolvendo ufologia e reencarnação.
–Ninguém é de Ninguém: baseado em livro psicografado por Zíbia Gasparetto.
A essa lista pode-se incluir o doc O Contestado – Restos Mortais, a ser exibido no É Tudo Verdade. Sylvio Back recorre a médiuns para evocar os espíritos dos que lutaram na chamada guerra dos pelados. A diferença é que, para Back, o Além é apenas um dispositivo fílmico (mais ficcional que propriamente documental) que, aliás, ele já havia usado no curta Autorretrato de Bakun e nas filmagens de A Guerra dos Pelados.
Há uma grande diferença entre filmes que tematizam o espiritismo como prática religiosa ou mensagem do Bem e aqueles que simplesmente tratam do retorno de mortos como fábula. Ghost e O Sexto Sentido, por exemplo, costumam ser incluídos em listas de filmes espiritualistas, embora haja ali tanto espiritualismo quanto num show do Cirque du Soleil. Se formos por esse caminho, vamos concluir que a receita de sucesso do cinema brasileiro pode ser mesmo o contato com as almas dos mortos. O filme com maior público continua sendo Dona Flor, em que um dos dois maridos voltava do outro mundo para alegrar a cama de Sonia Braga.
Obs.: Esse texto contém dados colhidos na Folha de S. Paulo
É o “futuro de uma ilusão” como designou o velho Freud…
TEXTO GENIAL. Faltou dizer isto!
Leninha, vale a pena refletir mesmo sobre isso. As pessoas comuns vivem à cata de mensagens positivas passadas com algum tipo de estardalhaço. E o cinema brasileiro parece que descobriu o filão nos filmes de fundo religioso. Vamos encarar o surto. Reflita sobre isso do ponto de vista econômico.
P.S. Genial é o cacete.
Leninha de volta “aos rios” (!). Iria um pouco além dizendo que o povo gosta mesmo é de “crendice”. Virá por aí “Aparecida”, dirigido pela Tizuka Yamazaki, e produzido por Glaucia Camargos e Paulo Thiago (visitei o set esses dias e falarei sobre isto). Será um tema católico, mas milagreiro, que se juntará a outras bilheterias bombásticas, como “Maria, a Mãe do Filho”. E a dúvida permanece… O que faz estes filmes “bombarem”? São filmes fora da curva e fora da variável preço do ingresso, pois levam ao cinema um público não frequentador, mas “curandeiro”. Assisti a “Chico Xavier” na tua terrinha (Salvador), berço de todo o sincretismo religioso, e nas profundezas da escuridão da sala, vi desde Oxumaré a Dodô e Osmar, passando pelo batista e o universal. Está aí. Vou abraçar Iemanjá e fazê-la sereia. 🙂 Beijos e saudades!!