Títulos atualizados para alguns filmes de Fellini:
Oito e-mail
E la Nuvem Va
A Infovia da Vida
O Podcast da Lua
Baladas de Cabíria
La Diet Vida
Ginger = Fred
Flatnovo
Filmes da chamada “franquia” têm dessas coisas. TAINÁ: A ORIGEM precisa cumprir todos os requisitos da série: um bichinho engraçadinho a cada minuto na tela, uma visão idealizada dos índios e da floresta, um contraste bem forte com o universo do espectador (a menina da cidade) e uma mensagem fofinha de amor pela natureza. A eficiência no cumprimento da pauta nem sempre é acompanhada por eficiência na realização. A montagem tira o “barato” de várias cenas de ação, o plot central parece empurrado a toque de caixa. Mas, apesar de tudo, o filme é simpático, como disse meu amigo Daniel Schenker, e segurou a atenção da maioria das crianças que estavam na mesma sessão que eu. A menina Wiranu Tembé é mesmo uma gracinha, a melhor atriz em cena. Mas, para o marmanjo aqui, o grande lance foi revelar que a mãe de Tainá era a encantadora Mayara Bentes. Diante dela todos os deuses da mata se ajoelham.
NOTA DE RODAPÉ parece um filme profundamente judaico, não exatamente por tratar de estudos do Talmud, mas por envolver disputas familiares numa chave de franqueza e não-conciliação quase chocantes. O filme me cansou um pouco no início pelo excesso de música berrante e pela tentativa de fazer comédia sem um terço do talento com que um Elia Suleiman, por exemplo, trataria de assunto semelhante. O ator que faz o pai, bastante limitado, tampouco ajuda muito. Mas da metade em diante, quando a coisa vira um suspense intelectual e as relações entre pai e filho ganham contornos quase apocalípticos, aí fui fisgado.
Um dos filmes do meu menu cinrematográfico “quanto mais longe do carnaval melhor”: o drama erótico japonês MANJI (1964), de Yasuzo Masumura, com roteiro do Kaneto Shindo baseado em romance de Junichiro Tanizaki. Ou seja, só gente boa. Uma mulher casada se apaixona por uma colega de aulas de pintura, uma deusa de beleza que envolve todos ao seu redor. Uma trama escalafobética se arma: um quadrilátero amoroso cheio de cruzamentos inesperados, juras de morte e suspeitas recíprocas. Tudo o que vamos percebendo como jogos entre os personagens vai aos poucos se revelando verdades, frutos de paixão obsessiva e renúncia amorosa. Filme belo e estranho, ridículo na superfície e intrigante por baixo dos kimonos.
Mais um drama de vestidão conferido na corrida pelos Oscars. ANNA KARENINA tem o esmero visual e as “audácias” de câmera típicas de Joe Wright. Mas, ao contrário do belo ORGULHO E PRECONCEITO, aqui tudo parece estar sobrando. O realismo de Tolstoi não combina nada com aquele tratamento cheio de papagaiadas. O filme se passa em parte dentro de um teatro, em parte na “realidade”, e os dois níveis se misturam frequentemente, fazendo por exemplo com que uma corrida de cavalos “passe” pelo palco diante da plateia com seus binóculos. Extravagância após extravagância, o filme parece afinal rodado num museu de cera, com personagens emperequetados fazendo poses o tempo todo. O ritmo é excessivamente veloz para o tempo da história e Keira Knightley não convence como Anna. Aqui e ali, Wright chega ao limite da comédia musical coreografada, o que só serve para esvaziar a dramaturgia e esterilizar os sentimentos em pauta. A fotografia é deslumbrante, mas a direção de arte entulha os ambientes a ponto de ficar tudo parecendo uma feira de antiquários. Dá vontade de dizer “menos, Joe, menos!”
Só hoje assisti ao doc 5 CÂMERAS QUEBRADAS, que passou pelo É Tudo Verdade e agora disputa o Oscar de longa documental. É um épico palestino rodado por um jornalista da Cisjordânia, que monta o filme em cinco atos segundo cada câmera atingida por safanões ou tiros de soldados israelenses que defendem a ocupação de sua aldeia. Tem a urgência dos conflitos filmados a quente, com pessoas morrendo ao redor e a conta dos mártires palestinos subindo a cada sequência. Uma proeza semelhante a BUDRUS, de Julia Bacha, não tão eloquente mas ainda mais arriscado. No meio de tudo, uma presença afetiva do Brasil. Soraya, a mulher do diretor Emad Burnat, é palestina mas foi criada aqui. A casa deles, as roupas das crianças e até uma das câmeras de Emad exibem bandeiras e o nome do Brasil. Percebe-se que nosso país, para eles, é associado com alguma coisa de bom e festivo, um sonho de pertencimento e de paz, provavelmente.