Pietà venceu o Festival de Veneza e foi o candidato coreano (não indicado) ao Oscar de filme em língua estrangeira. Esta é, sem dúvida, a maior vitória de Kim Ki Duk como enganador de júris de festivais e de críticos condescendentes com o cinema que vem de Seul. Festejado por apreciadores de orientalismo naïf (Primavera, Verão…, O Arco) e melodramas baratos disfarçados de filme de arte (Fôlego, Time), ele chega ao ápice com este conto moral sobre os horrores do capitalismo e da orfandade.
O frio e cruel Kang-do (ladrão em coreano) é um implacável cobrador de dívidas. Parece atuar somente num velho bairro de artesãos metalúrgicos endividados enquanto a cidade dos ricos cresce ao redor. Sua maneira de recobrar o dinheiro para o patrão é aleijar os pobres trabalhadores e recolher o pagamento do seguro. Ele age assim até o dia em que cruza seu caminho uma mulher misteriosa, que afirma ser sua mãe, arrependida por tê-lo abandonado ainda bebê. O que se segue não vou contar para não estragar o desprazer dos incautos que ainda o verão. Limito-me a dizer que tudo vai se tornando cada vez mais incongruente e apelativo, tanto em termos de violência como de primarismo dramatúrgico.
Kim Ki Duk está sempre a um passo do dramalhão, a um centímetro do kitsch e a um milímetro do ridículo. Pietà é talvez o mais longe que ele já foi nesse caminho. O estilo impressiona, a meu ver, pelas vias erradas. A frieza das cores, a empostação afetada dos atores, a maquiagem excessiva, as posturas solenes só fazem sublinhar um artificialismo atroz e empertigado, que esvazia o pretenso realismo da ambientação. Como história de vingança, redenção e denúncia política, Pietà é um pequeno elefante branco. Apenas um filme mais desagradável a cada minuto que passa.
(Texto publicado originalmente durante o Festival do Rio 2012)
Ridícula é essa “crítica”!
Então estamos quites, André, eu e o filme.