Passamos a primeira meia-hora de HANNAH sem saber muito bem o que estamos vendo. Lá está uma mulher idosa e triste fazendo trabalho de doméstica, frequentando um grupo de terapia e se separando do marido, que vai para a prisão.
O filme continua, e seguimos tentando captar alguma rara pista da culpa e da amargura profunda daquela mulher, agora sozinha com um cão igualmente deprimido. O roteiro se esforça por esconder os motivos. Trata-se de um exercício de ocultamento, fabricação artificial de um mistério.
A estética acompanha essa intenção narrativa. Muitas cenas são vistas através de frestas ou de reflexos, como se a câmera estivesse ali por acaso, indiferente à presença e à movimentação da atriz. Com frequência, o centro de interesse da cena se dá fora do quadro. O uso do desfoque como que pressiona os espaços em torno de Hannah. O seu silêncio e os longos momentos de inação contribuem para reduzir o teor de informação. Presenciamos um estado, mas não suas razões.
Como resultado, é provável que o espectador saia do cinema sem compreender o que levou aquela família a tal ponto de dissolução. Aqui chegamos a uma questão relativa ao minimalismo. Esse tipo de economia estilística consagrou a noção de que “menos é mais”. Melhor seria dizer que “menos pode ser mais”. Mas pode também não ser. Em HANNAH, a meu ver, menos é menos, mesmo. Daí a razão da frustração que o filme de Andrea Pallaoro pode causar.
Se, ainda assim, HANNAH vale a ida ao cinema é pela atuação extraordinária de Charlotte Rampling, premiada no Festival de Veneza. Ela não se nega a expor o corpo envelhecido e, nos muitos e intensos closes, nos faz dimensionar a dor imensa que dilacera a personagem. Charlotte pode não suprir o que o roteiro sabota, mas atesta o que uma grande atriz pode fazer a partir do vazio e do silêncio.