A ÚLTIMA GRAVAÇÃO no Festival do Rio
A paixão de Sérgio Britto pelo teatro esteve perto de transcender a morte. Aos 85 anos, o ator colocou a sua fragilidade em cena em duas peças desafiadoras de Samuel Beckett: A Ultima Gravação de Krapp e Ato sem Palavras I. Ele expunha seu corpo debilitado e enfrentava com o garbo de sempre o texto e os silêncios ressecados do dramaturgo da solidão e do vazio da existência humana.
Isabel Cavalcanti, que lhe propôs os desafios e o dirigiu, apresenta agora no Festival do Rio o que vem a ser a despedida do ator. A ÚLTIMA GRAVAÇÃO, finalizado em conjunto com a montadora Célia Freitas, traz os registros das peças e momentos da convivência de Isabel e Sérgio durante os ensaios e as apresentações. De certa forma, é uma transcendência para o ator falecido em 2011.
Sérgio concordou com o crítico Macksen Luiz quando este escreveu que Krapp era “um Sérgio Britto reinventado por Isabel Cavalcanti”. Isso é verdade, mas também ecoa o interesse permanente de Sérgio por se reinventar ao longo da carreira, associando-se a encenadores como Amir Haddad, Gerald Thomas, Luiz Fernando Lobo e a própria Isabel.
Nas duas peças, uma relação intensa se estabelecia entre o ator e seus personagens: um homem no fim da vida que está perdendo a memória, obcecado por gravar sua história, e outro que não consegue sair do palco, sendo arremessado o tempo todo de volta à cena.
A ÚLTIMA GRAVAÇÃO é um testemunho comovente da tenacidade de Sérgio e da fértil relação entre uma jovem desbravadora do teatro e um titã sempre aberto a experiências radicais. Será exibido nesta terça, 17/12, às 18:00 no Estação Net Gávea 1 e 2, e na quarta, 18/12, às 15:15 no Estação Net Rio 3.
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Incrível, fantástico! Uma vontade incrível de assistir!!!
Não perca mesmo, Flavio.