Guerra na Ucrânia, funeral em Sergipe

DONBASS e A GENTE ACABA AQUI no streaming 

Guerra fratricida na Ucrânia

A plataforma Reserva Imovision lançou o filme-painel Donbass, de Sergei Loznitsa (State Funeral), sobre a parte da Ucrânia ocupada pela Rússia desde 2014 como parte do projeto Novorossiya (Nova Rússia). A guerra fratricida subsequente já consumiu mais de 10 mil vidas. Donbass, premiado como melhor direção na seção Un Certain Regard em Cannes, alinha uma série de episódios baseados em fatos da sangrenta relação entre separatistas ucranianos pró-Rússia e forças governistas ligadas ao Ocidente.

Loznitsa não faz um cinema para dar a entender os contextos que aborda. Para quem não conhece a conjuntura da guerra do Donbass e os ecos da II Guerra e da grande fome da época stalinista naquela região, não é fácil situar-se entre tantos personagens e situações. Mas há sempre a força própria de cada longo plano-sequência, conduzido sob um controle extraordinário na movimentação de câmera, atores e múltiplos focos de ação. São cenas de corrupção, extorsões em postos policiais, hostilização de jornalista, um casamento carnavalesco tutelado por militares, emboscadas, explosões e fuzilamentos sumários.

Duas sequências são particularmente estarrecedoras. Numa delas, uma câmera subjetiva (supostamente de um jornalista) filma um abrigo repleto de famílias esfomeadas. Na outra, um homem é apresentado como “exterminador fascista” e submetido à execração e linchamento em praça pública. Como moldura de todo esse painel, o filme abre com um grupo de atores sendo maquiados para encenar fake news de um telejornal e encerra com um retorno violento aos mesmos personagens.

>> Donbass está na plataforma Reserva Imovision

Trailer legendado em inglês:



A morte crua

A baiana Everlane Moraes é a mais recente participante do programa IMS Convida. Seu curta A Gente Acaba Aqui está sendo incorporado ao site do instituto a partir de hoje, segunda, 5/7 (assista aqui). Everlane filmou o velório e o funeral de um tio em 2011, em Aracaju. Finalizou o curta agora, inserindo referências a vários parentes que então participaram do ritual e já não estão mais entre nós. É um filme de luto, sim, mas um luto que se dissolve na banalidade do cotidiano.

Everlane captou com capricho visual a iconografia fúnebre. Sua câmera percorre o ambiente com solenidade, criando um contraste interessante com as conversas triviais do entorno. As pessoas olham o morto com a curiosidade de praxe, alguém sopra a poeira do vidro do caixão, o coveiro arregala os olhos para a câmera. A morte é crua como o barro mole no qual se inscreve o nome do falecido. A gente acaba ali.

Um pouco mais de 170 artistas e coletivos já contribuíram para o programa do IMS, que está chegando ao fim. Disponíveis no site estão trabalhos (sempre curtos, realizados ou finalizados durante a pandemia) de nomes como Helena Ignez, Grace Passô, Cristina Amaral, Marilene Felinto, Jorge Furtado, Joel Zito Araújo, Karim Aïnouz, João Silvério Trevisan, Maria Augusta Ramos, Mídia Ninja, Vídeo nas Aldeias e Rocinha Resiste, entre cineastas indígenas e muitos outros. Veja todos os trabalhos aqui.

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