Esses austríacos são muito estranhos. Em Import Export, Ulrich Seidl usa dois personagens para contrapor o mundo da ordem-controle-poder-opressão (a Áustria) ao mundo da submissão-carência-degradação-humilhação (a Ucrânia). Em comum, uma certa desumanidade que parece passar da arquitetura e da paisagem para as pessoas. E a globalização do fracasso na União Europeia.
Até aí, tudo bem. Mas ao diretor não basta expressar esses infernos gelados pelo naturalismo mais cru. Ele tem que submeter o espectador aos rituais por que passam os personagens. Assim, as cenas de velhos dementes numa clínica geriátrica, altercações violentas e humilhações sexuais se estendem além da conta, visando não apenas narrar a situação, mas mergulhar o espectador naquelas experiências.
Também nos filmes de Michael Haneke, por mais que reconheça seu talento, vejo esse impulso sadomasoquista na relação com o espectador. Existe algo de perturbador nessa utilização do poder de subjugação do cinema. Lembro que saí no meio do primeiro Funny Games, de Haneke. Nem quis ver a refilmagem. Não sou cobaia de cinema. No fundo, sinto um cheiro de nazismo nesse gosto acrítico e não-dramático pela brutalidade.