Ônibus 1961
Quem viu o magnífico Jonestown: Life and Death of the Peoples Temple e outros filmes de Stanley Nelson exibidos em sua retrospectiva no Festival do Rio de 2007 conhece bem a potência do mestre. Nelson trabalha prioritariamente para a TV pública americana, celeiro de bons documentários, embora marcados por uma linguagem convencional. O diferencial desse diretor é a imensa capacidade de engendrar narrativas magnetizantes a partir de depoimentos editados com maestria dramática e materiais de arquivo ricamente pesquisados.
A maioria de seus docs se refere à cultura e à política dos afro-americanos. Para recontar a história dos Freedom Riders, grupos de ativistas birraciais que desafiaram as leis da segregação no sul dos EUA em 1961, Nelson recorre a um impressionante acervo de filmes profissionais e amadores, fotos e músicas capazes de recriar os eventos quase passo a passo. Os Freedom Riders eram brancos e negros que se uniam para viajar juntos em ônibus interestaduais, sendo recebidos a pauladas e explosões por segregacionaistas brancos do Alabama e do Mississippi. Ao primeiro grupo seguiu-se um segundo de estudantes e um terceiro de mais de 400 voluntários que acorreram de todo o país para dividir a prisão com os que já lá estavam.
Esse episódio épico do Movimento dos Direitos Civis americanos não escapa ao olho crítico de Stanley Nelson. Sobram farpas de omissão para John Kennedy, de indecisão para Bob Kennedy e até de corpo mole para Martin Luther King, que só acompanhava os Riders até a porta dos ônibus. Entre a ação minuciosamente evocada e as injunções políticas amplamente esquadrinhadas, Passageiros da Liberdade pode parecer um pouco longo e excessivo em detalhes. Mas a competência de todos os elementos é uma aula de evocação histórica e inspiração de cidadania através do documentário.