Ambiente expandido

O ator Bill Pullman desce de um carro à margem de uma estrada do Havaí e se embrenha por um denso matagal. Suado, sujo, como um caçador no encalço de sua presa, ele finalmente a alcança: uma árvore alta, de onde seu companheiro de jornada colhe umas frutas de formato estranho e sabor exótico. Não, não se trata de uma aventura hollywoodiana, mas de uma cena do documentário Caçadores de Frutas, que abre hoje à noite, no Espaço Itaú de Cinema (Rio), a terceira edição do Filmambiente – Festival Internacional de Audiovisual Ambiental.

Durante uma semana, o evento vai trazer uma seleção caprichada de longas e curtas sobre a convivência do homem com o planeta. Haverá sessões no Espaço Itaú, Instituto Moreira Salles, Museu do Meio Ambiente, Instituto Italiano de Cultura e também na Arena Carioca Chacrinha (Pedra de Guaratiba) e na Nave do Conhecimento (Madureira). A programação (veja o site) inclui uma mostra especial do National Film Board do Canadá.

É canadense, por sinal, a produção de Caçadores de Frutas. Na verdade, esta é uma superprodução documental dirigida por Yung Chang (autor do belíssimo Up the Yangtze). Bill Pullman, mentor de uma comunidade de plantadores de frutas nas colinas de Hollywood, é um dos vários personagens que buscam, colecionam e/ou tentam salvar espécies raras de frutas. O filme vai ao Havaí, a Bornéus, a Bali e a Honduras seguindo os passos desses guardiões da diversidade. O que acontece é que a indústria alimentícia padronizou e globalizou as frutas, em prejuízo de sabores específicos que hoje precisam ser buscados em lugares recônditos e preservados de maneiras imaginosas, mesmo através de hibridizações. A fruta está na origem do imaginário humano, haja vista o episódio bíblico da maçã e a célebre paixão da Princesa Yang Kwei-Fei por lichias. No doc de Yung Chang – que estará presente na abertura – as frutas são filmadas como corpos de mulher, com sensualidade e admiração. Ninguém resiste a ver o filme sem correr depois, cheio de amor, para o hortifruti.     

Na vasta programação do Filmambiente está também o novo longa de Gus Van Sant, o drama Terra Prometida (Promised Land). Matt Damon vive um executivo de empresa de gás natural enviado a uma cidadezinha para convencer os habitantes a venderem suas terras. As pedras no seu caminho serão a resistência de um professor aposentado (Hal Holbrook) e a chegada de um jovem ambientalista (John Krasinski). O filme, escrito e produzido por Damon e Krasinski, sintetiza uma discussão ampla em basicamente três personagens, o que, se por um lado facilita a compreensão dos pontos de vista, por outro simplifica bastante as coisas numa lógica de western. Mas, como afinal se trata de um thriller, não faltarão surpresas antes que a cidade decida se quer ou não o progresso representado por uma empresa com o nome assustador de      Global Crosspower Solutions.

Ficou reservado para o encerramento do festival o novo filme do belga Marc-Henri Wajnberg, diretor do doc Oscar Niemeyer, un Architecte Engagé dans le Siècle. Em Kinshasa Kids ele mescla ficção e documentário de modo quase indiscernível para mostrar as aventuras e desventuras de cinco crianças de rua na capital do Congo. Expulsos de suas casas como bruxos, eles vão formar uma pequena comunidade no caos urbano de Kinshasa. Lidam com uma polícia corrupta e descobrem na música uma oportunidade de se divertir e ganhar algum dinheiro. Com uma linguagem muito ágil, toques de musical e de animação, o filme traz no elenco a talentosa Rachel Mwanza, que ganhou o Urso de Prata em Berlim pela composição de uma menina tida como bruxa em A Feiticeira da Guerra. Wajnberg virá ao Rio para a sessão de encerramento.

O tema ambiental não está evidente em Kinshasa Kids, a não ser por mostrar a degradação sanitária da cidade. De alguma forma, a presença do filme indica uma expansão do campo de interesse do Filmambiente. Gente, afinal, é a parte mais sensível da Natureza.

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