“Onde foi que eu errei?”, canta Agnaldo Timóteo ao final do documentário. Para quem viu o filme até ali, não é difícil responder. As cenas reunidas por Nelson Hoineff não são particularmente enobrecedoras para o personagem, mas não se pode negar que expressam a sua veia de polemista falastrão e contraditório.
Expor seu despeito contra astros da MPB como Chico Buarque e João Gilberto é uma espécie de esporte favorito, mesmo que logo em seguida ele possa estar falando maravilhas sobre os mesmos nomes. Com os políticos não é diferente. Disposto a jogar “verdades” na cara de qualquer um, Timóteo gosta de bancar o franco-atirador. Num dado momento, conta que esteve a ponto de matar Leonel Brizola.
Com EU, PECADOR Hoineff amplia sua galeria de figuras controvertidas, como Paulo Francis, Chacrinha e, em menor grau, Cauby Peixoto. De todos, Timóteo é o mais escrachado. O documentário o acompanhou durante a fracassada campanha a vereador, em 2016. Mas a carnadura do filme é mesmo uma seleção de materiais de arquivo em que Timóteo, com seus figurinos pavorosos, canta, faz performances na política, brada contra as elites e o racismo, bate boca e paga micos na TV.
O tema da sexualidade é um dos que mais abastecem a sua metralhadora giratória. Quanto à sua própria, já nos créditos iniciais ele está entoando uma canção em que pede perdão pelos “amores proibidos”. Timóteo não poupa elogios e lágrimas pelos rapazes que passaram por sua vida.
Os retratos realizados por Nelson Hoineff têm a virtude de encarar de frente os lados claro e escuro dos personagens. São filmes inclementes, quase agrestes em sua maneira de expor. EU, PECADOR talvez dependa mais que o conveniente da mera exteriorização que Timóteo faz de si mesmo. De qualquer forma, isso já basta para quem quiser entreouvir as confissões de um pecador impenitente.
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