A brisa cálida da fraternidade

MEIO IRMÃO

Vila Ré, bairro de classe média baixa de São Paulo. Uma menina branca de 16 anos vê a mãe desaparecer de casa mais uma vez, agora por muitos dias sem notícia. Um credor vem retirar móveis e utensílios como ressarcimento de uma dívida da mãe. A água é cortada por falta de pagamento. Em outro ponto da mesma Zona Leste, um rapaz negro trabalha com o pai na instalação de equipamentos de vigilância. Ele é gay e filma uma agressão homofóbica, passando a ser ameaçado por milicianos.

Esses dois núcleos paralelos se encontram quando Sandra passa a frequentar a casa de Jorge, primeiro clandestinamente, em busca de abrigo e referência. Eles são irmãos por parte da mãe e mal se conhecem. MEIO IRMÃO, longa de estreia de Eliane Coster, trata com sensibilidade e uma dose de humor um tema difícil, que é o das relações entre adolescentes em clima de crise.

A diretora e roteirista tem um ótimo ouvido para os diálogos, que soam legítimos na boca dos atores – especialmente dos protagonistas Natália Molino e Diego Avelino, duas boas promessas de espontaneidade absoluta no cinema brasileiro. O lado negativo disso é que algumas falas, de tão naturalizadas na dicção deles, ficam de difícil compreensão. Mas os personagens são perfeitamente críveis e nunca extrapolam o que se espera deles apenas para serem “tipos de cinema”.

Em meio às implicâncias de irmãos e às incertezas próprias de cada um, forma-se aos poucos um laço afetivo que não muda a vida de nenhum dos dois, mas traz uma brisa cálida para os corações. De quebra, temos um bom retrato de uma parcela social pouco representada em filmes, seja nas atitudes ou nos dilemas enfrentados, seja na arquitetura ou na representação cenográfica de seus ambientes.

A relação dos personagens com os celulares e os equipamentos de segurança também informam sobre a fetichização do mundo eletrônico no cotidiano das camadas populares.

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