CEM QUILOS DE ESTRELAS
Para a gordinha Loïs, a principal razão de querer ser astronauta é aliviar-se do peso da gravidade. A balança lhe acusa 100 quilos e ela não suporta olhar-se no espelho. Tem que aturar os olhares de soslaio para o seu corpo e os não olhares dos garotos. Culpa a mãe, também obesa, e recusa-se a comer. Os problemas da menina começam a perder peso quando ela se enturma com três outras garotas “meio especiais” numa clínica.
CEM QUILOS DE ESTRELAS (100 Kilos d’Étoiles) é uma simpática comédia de superação e autoaceitação. Primeiro longa de Marie-Sophie Chambon, tem um diferencial em relação a outros filmes desse subgênero. Uma franqueza rude, sem meias palavras, domina a relação entre as personagens. Além disso, as soluções mágicas para as características das meninas (além de Loïs, uma cadeirante, uma anoréxica e uma portadora de TOC) ficam apenas no nível do lúdico. É através do humor ou da irritação sincera com suas peculiaridades, além de algumas transgressões na linha de Um Estranho no Ninho, que elas encontram a sintonia e a sororidade.
O roteiro, apesar de ingênuo e capenga aqui e ali, cria um espaço de tolerância até mesmo para uma cena de comicidade insólita com seguranças tentando remover a sobrepesada Loïs de uma posição de protesto. Em contrapartida, incorre no equívoco de estereotipar negativamente os homens (à exceção do pai de Loïs) para realçar a perversidade social com as mulheres “fora da norma”.
No cômputo geral, o filme me agradou medianamente pelo trabalho cativante do elenco (com Laure Duchene à frente) e por um aspecto que distancia o cinema francês de seus similares americanos: em lugar de competição e ambição material, a juventude corre atrás de conhecimento e cooperação.