VOU NADAR ATÉ VOCÊ
VOU NADAR ATÉ VOCÊ teve passagem rápida pelos cinemas, pouco antes do fechamento das salas. Agora chega ao streaming com o trunfo de ser a estreia de Bruna Marquezine como protagonista de cinema. Ela é a principal razão de ser do filme. A câmera a namora mais que o Neymar já namorou. Administra como voyeur os detalhes do corpo, gira em torno dele, coloca-o em todas as poses possíveis. É filme de fotógrafo “apaixonado”, vê-se. E também filme de fotógrafoS.
Embora o diretor estreante Klaus Mitteldorf seja um fotógrafo renomado que iniciou carreira clicando piruetas de surf, a personagem de Bruna está longe de ser uma Surfistinha. Ofélia é uma jovem aficcionada por fotografia que viaja de Santos a Ubatuba à procura de um fotógrafo alemão (Peter Ketnath, de Cinema, Aspirinas e Urubus) que julga ser seu pai. Ela decide fazer o trajeto a nado, alternando com barcos e caronas rodoviárias. No caminho, é seguida por um personagem misterioso (Fernando Alves Pinto), também fotógrafo, que representa o elo mais inconsistente (entre vários) da trama.
A léguas de distância, o entrecho lembra o do conto O Nadador, de John Cheever, que deu origem ao filme Enigma de uma Vida, de Frank Perry, no qual um homem faz longo percurso de consciência atravessando piscinas de várias casas de um subúrbio americano. Para Ofélia, a viagem seria uma iniciação à maturidade, o que o filme fica longe de conseguir exprimir.
O mergulho inicial da moça, do alto de uma ponte em Santos, é uma das várias tomadas aéreas de grande beleza. O filme é visualmente caprichado numa estética próxima do publicitário e bem embalado em música, ainda que interrompa a ação para devaneios musicais além da boa medida. Mitteldorf procura criar uma atmosfera de sensualidade à la David Hamilton e melancolia, mesmo que isso não combine muito com o tema da atração natural entre pai e filha. As intenções se chocam dentro do filme.
São muitas as citações, alheias e autorreflexivas. Do romantismo do poeta William Blake à Ophelia do pintor John Everett Millais, passando por Cortázar. As fotos ampliadas e um filme Super 8 com surfistas em 1975 são de autoria do próprio diretor, que assim cita a si mesmo in extenso.
Uma inquietação, talvez comum a fotógrafos e documentaristas, aflige pai e filha: a circunstância de fotografar estranhos. O desejo de conhecimento, portanto, é que impulsiona Ofélia e Tedesco ao encontro um do outro. Se isso vai se concretizar é indagação que permanece até o último plano do filme, no limiar entre o real e a imaginação.
VOU NADAR ATÉ VOCÊ pode ser encontrado nas plataformas de VOD NET Now, Vivo, Oi, Looke e Filme Filme.