Pedras de outros mundos

FIREBALL: MITOS, COMETAS E METEOROS na Apple TV

O cinema de Werner Herzog sempre esteve interessado em dualidades extremas: o anão e o super-homem, o prosaico e o infinito, o científico e o mítico. É nessa última que recai seu mais recente documentário, Fireball: Mitos, Cometas e Meteoros (Fireball: Visitors from Darker Worlds). Mais uma vez, Herzog vasculha os quatro cantos do mundo, agora em busca dos locais onde caíram meteoros ou alguém perscruta os céus e a terra à procura de seus fragmentos.

Atuando apenas como narrador, ele colocou na frente das câmeras (e dividiu a direção com) o vulcanólogo Clive Oppenheimer, que já havia participado de dois filmes anteriores seus: Encontros no Fim do Mundo e Visita ao Inferno. É Clive quem entrevista geólogos, cosmólogos, astrônomos, artistas e místicos envolvidos com esses objetos celestes que constituem a matéria mais antiga do Universo e, segundo os especialistas, não param de cair sobre a Terra. Do México à Antártida, do deserto australiano ao Rajastão, da Noruega a uma pequena ilha da Melanésia, a dupla visita crateras, laboratórios e observatórios para aprender e especular sobre as pedras do outro mundo e a possível origem da vida fora do nosso humilde planeta.

A curiosidade insaciável de Herzog, porém, nem sempre é capaz de produzir obras-primas. Fireball está bem longe de provocar a fascinação especulativa de Nostalgia da Luz, por exemplo, mesmo chegando à conclusão de que, afinal, não somos mais que poeira de estrelas. O filme tem belos momentos, como a caravana que procura meteoritos no gelo sem fim da Antártida, ou a entrevista com um padre de Castel Gandolfo, cuja paixão pela ciência em nada abala a sua fé. Mas há também delongas aborrecidas em torno de particularidades técnicas, como a preleção sobre quasicristais, e concessões ao exotismo que Herzog não consegue justificar plenamente em seu texto de narração.

Entre as “descobertas” curiosas está um centro de defesa do planeta contra objetos celestes, localizado no Havaí, e uma insólita comunidade de “Amigos do Meteorito” no interior da França. Fireball é marcado também pelo humor ácido de Herzog. Diante da desolação de um lugarejo na península de Yucatán, ele diz que aquilo nos faria chorar. Perante o júbilo de um explorador ao encontrar um pedaço de meteorito, esbraveja contra “a estupidez das escolas de cinema” que não ensinam a lidar com momentos como aquele.

Em seu entusiasmo e obsessão pelo métier, alguns entrevistados chegam a parecer cômicos como certos personagens patéticos da filmografia herzoguiana. Herzog certamente os admira intensamente. São eles que conectam a pequenez humana com a grandeza do desconhecido.

>> Fireball: Mitos, Cometas e Meteoros está na plataforma AppleTV

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