Coutinho no Tietê

Através do meu amigo Bebeto Abrantes chegou às minhas mãos um item raro da filmografia de Eduardo Coutinho. Pedro Novaes, filho do célebre jornalista Washington Novaes (1934-2020), resgatou do acervo do pai uma fita com o documentário São Paulo: Um Rio Pede Socorro, dirigido por Coutinho para a série Os Caminhos da Sobrevivência, comandada por Washington na Rede Manchete em 1986. Esse foi um dos poucos títulos de Coutinho que eu não consegui acessar durante a preparação dos meus dois livros sobre ele e da Ocupação Eduardo Coutinho.

O programa dura 53 minutos e está dividido em cinco blocos. Tem fotografia de Mário Ferreira, narração de José Wilker, música de Arrigo Barnabé e assistência de direção de Sérgio Goldenberg. Não é um típico documentário coutiniano como viemos a consagrar, mas um dos muitos trabalhos em vídeo e televisão que ele fez para tirar o sustento entre o sucesso de Cabra Marcado para Morrer e o retorno ao cinema com Santo Forte. Caminhos da sobrevivência, por assim dizer.

Trata-se de uma reportagem sobre a deterioriação do Rio Tietê causada pelo escoamento de esgotos, o depósito de detritos de todo tipo e o assoreamento, bem como a insuficiência das medidas de defesa ambiental já tomadas. Um bloco inteiro é dedicado à poluição do ar em São Paulo. Coutinho entrevista especialistas, dirigentes de empresas públicas e também alguns populares. Suas perguntas curtas e velozes são ouvidas de fora do quadro. A um sem teto que mora debaixo de uma ponte à margem do rio, ele faz um tipo de indagação que lhe era característico, desprovida de julgamentos prévios: “Aqui é bom ou ruim? Conta aí”.

Para quem sabe que ele tinha dificuldade em conversar com crianças, é divertido ouvi-lo entrevistando os integrantes de um grupo ecológico mirim sobre as grandes questões da poluição na cidade.

Outra curiosidade é imaginá-lo numa investigação um tanto aventuresca, navegando durante cinco dias pelo Tietê, desde o olho d’água de sua nascente no município de Salesópolis até a foz no Rio Paraná. No caminho, visita os subterrâneos arriscados do Rio Anhangabaú e faz uma escala no lixão de Guarapiranga, de alguma forma antecipando o futuro Boca de Lixo, de 1992.

Graças à gentileza de Pedro Novaes, podemos disponibilizar São Paulo: Um Rio Pede Socorro pela primeira vez desde 1986:

6 comentários sobre “Coutinho no Tietê

  1. Excelente!! Obrigada por compartilhar, material ótimo para conversa com discentes sobre projetos de documentários e reportagens.

  2. Que riqueza de material! Obrigada!! Agora já pode lançar uma nova edição dos livros, contando mais esta história do Coutinho.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s