Existem várias Índias na Índia. Mas existem principalmente o Norte e o Sul. O Norte é vasto, seco e culturalmente sóbrio. Ali estão as amplidões do Rajastão; a capital, Delhi, com seu caos e sua oficialidade; e Calcutá com suas multidões e sua herança colonial. Como um marco de divisão entre as duas regiões está Mumbai, centro da cultura pop, Bollywood, etc. Já no Sul as latitudes ficam mais estreitas, o clima se umedece e o desenvolvimento se projeta nas áreas de tecnologia e informática (Bangalore, Chennai).
Embora a cidade mais “sagrada” seja Varanasi, situada no Nordeste, é na parte sulina que se encontra a maior quantidade de sítios religiosos tradicionais (vejam meu vídeo sobre Madurai). Os estados de Karnataka, Tamil Nadu e Kérala são salpicados de templos, ruínas de templos, santuários e monumentos de inspiração hinduísta.
Eu visitei essa região em 2012 e fiquei fascinado pelo que vi em Mahabalipuram. Esse conjunto de monumentos fica próximo à costa de Coromandel, na Baía de Bengala, estado de Tamil Nadu. Durante a dinastia dos Pallavas (séculos VII e VIII), floresceu naquela área um tipo radical de arquitetura e escultura, que consistia em talhar enormes monólitos até que eles tomassem a forma de um templo, um elefante ou um “nandi” (o touro montaria de Shiva) em tamanho natural, ou ainda um imenso painel em relevo. Não havia emenda ou junção alguma. Tudo era esculpido a partir de uma única pedra.
No vídeo abaixo, estão o magnífico painel Descida do Ganges ou A Penitência de Ajuna (foto acima), assim como as “Rathas” (carruagens), pequenos templos construídos daquela maneira (foto no alto). O Shore Temple, imponentemente erguido às margens da baía, ficou em boa parte submerso em areia por vários séculos, tendo sido descoberto por arqueólogos já no início dos anos 2000.
A Unesco declarou Mahabalipuram Patrimônio Mundial em 1984. Todas essas estruturas são ricamente decoradas com relevos retratando tanto as divindades hinduístas em poses clássicas da iconografia religiosa, quanto pessoas comuns em tarefas prosaicas como acalentar uma criança ou ordenhar uma vaca.
É interessante notar que o culto se estende também a pedras não esculpidas, como a “Bola de Manteiga de Krishna”, muito querida do povo local.
Passei um dia inteiro visitando diversos pontos de Mahabalipuram e conto nos dedos o número de turistas ocidentais que vi. Como em outros trechos admiráveis do extremo Sul indiano, quem circula por lá é gente da terra em passeio ou peregrinação.
Ótimo Carlinhos! Me deixa com muitas saudades da Índia.
Ótimo Carlinhos! Me deixa com muita saudade da Índia.
Carlinhos, não conheço guia turístico melhor do que você, que não deixa pedra sobre pedra ao nos apresentar seja qual for o destino. E não deixar pedra sobre pedra nem é um trocadalho com as belíssimas esculturas feitas em um um único bloco de pedra… Dos lugares que gostaria de conhecer (mas vai ficar para a próxima encarnação), a Índia e seus constrastes ocupa o topo. A ela fui apresentada pelos livros maravilhosos de Javier Moro e Thrity Umrigar, entre outros. Neles aprendi muito sobre diferenças culturais, riqueza e miséria, relacões de poder, dores e alegrias desse povo. Faltavam imagens como as suas para percorrer literalmente os caminhos da Índia, principalmente aqueles que vão muito além de simples cartões postais. Uma inundação de belas imagens surgindo como as monções que lavam (e levam) tudo. Um casamento mais do que perfeito. E feliz como desejo que seja o dos noivos que fecham o vídeo. Obrigada por me convidar nesse passeio.
Querida, tente não deixar para a próxima encarnação. Seus comentários são a complementação ideal das videoviagens.
Por uma dessas coincidências inexplicáveis, abri seu vídeo sobre as pedras de Mahabalipuram e suas notáveis esculturas anônimas, nesta manhã de sábado, quando estava justamente curtindo, embevecido, as soberbas esculturas, fotos, desenhos e esboços do gigantesco livro “Auguste RODIN”, de Robert Descharnes e Jean- François Chabrun, publicado em 1967, na Suiça, em francês, que encontramos, há uns dez anos, num sebo do Quartier Latin. Essa coincidência de “escavações” paralelas sobre a mesma temática, nessas duas diferentes e distantes plataformas – meu livro e seu documentário “ao vivo”- centralizando, nelas, as soberanas esculturas dos anônimos mestres hindus e as do célebre artista francês, respectivamente, só confirmam nossa sintonia fina e o belo relevo de suas importantes “descobertas”, mundo afora, que democraticamente v. reparte, conosco, através do seu Blog, assim contribuindo para nos elevar, moral, estética e culturalmente. Obrigado, Carlinhos!
Toda sincronicidade merece atenção, não é mesmo, meu caro Nelson? Que bom saber que você viajou junto.
Oi, Carlos! Obrigado por me proporcionar uma viagem dentro de sua bela viagem indiana.
Eu que agradeço pela ótima companhia, Joaquim. Abração