Kubrick, o iluminado

OS LABIRINTOS DE STANLEY KUBRICK

A obra de Stanley Kubrick tem sido objeto de muito estudo e de alguns documentários reveladores, como Kubrick by Kubrick, Kubrick Remembered, Lost Kubrick e Stanley Kubrick: A Life in Pictures. Dada a relativa dificuldade de acessá-los, vale a pena não perder a oportunidade de assistir à ótima introdução que o crítico e professor Hamilton Rosa Jr. realizou em Os Labirintos de Stanley Kubrick. O filme de 57 minutos será exibido em sessão única hoje (segunda, 27/3), às 19h, no Estação Net Botafogo.  

Hamilton aborda a obra cronologicamente, de maneira bastante didática, destacando plots e curiosidades sobre cada filme, além de fornecer pílulas analíticas e informações sobre contexto e subtexto de cada um. Dividindo a trajetória do cineasta em cinco fases, ele traça uma evolução dos primeiros documentários relativamente simples até os trabalhos mais sofisticados de sua fase áurea a partir de Glória Feita de Sangue. O artista se superava formal e tematicamente, abandonando o idealismo e devassando a natureza perversa do homem dentro de uma realidade muitas vezes incompreensível. Hamilton ressalta como seu cinema ficou “cada vez mais filosófico”.

É praxe dizer que Kubrick expandiu os limites de cada gênero cinematográfico. Nada melhor para evidenciar isso do que as próprias imagens de seus filmes. E Os Labirintos de Stanley Kubrick nos traz o suprassumo da criação kubrickiana em trechos cuidadosamente selecionados. Hamilton obteve autorização da University of Arts London para usar o acervo iconográfico pessoal de Kubrick e trechos de filmes raros. Daí que esse média-metragem abrange também uma sintética biografia do início da carreira do cineasta, com sua obra fotográfica e sua paixão pelo boxe e pelo xadrez.

A intenção inicial de uma video-aula, a partir de um curso anterior de Hamilton sobre Kubrick, acabou se transformando num misto de aula e documentário bastante iluminador sobre o autor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Barry Lyndon e O Iluminado, entre tantas obras-primas do cinema moderno.

2 comentários sobre “Kubrick, o iluminado

  1. Por favor Carlinhos, coloque um “r” em “observaR”, na primeira linha do terceiro parágrafo. Merci. (“Também é interessante observar que Kubrick..”)

  2. Que bela oportunidade de adentrar o universo pessoal e artístico de Stanley Kubrick, por um especialista como o professor Hamilton Rosa Jr. realizador do filme “Os Labirintos de Stanley Kubrick”, ele que tudo conhece desse “poeta visual” do Cinema. Kubrick, cuja inteligência e perspicácia o instrumentalizaram, desde cedo, a perceber que somos capazes tanto do melhor como do pior, como inúmeras vezes demonstrado em seus filmes, legou-nos essa “sinuca de bico”, por não sabermos mais distinguir um e outro. O cineasta americano nascido em 1928, no Bronx, N.Y.C., antes de pensar em cinema como profissãoo, começou aos 16 anos como fotógrafo da sofisticada revista americana “Look”, que em outubro de 1971 fechou as portas, após 34 anos de existência e com tiragem de 6,6 milhões de exemplares, mas já sem lucros e maior concorrente da Time. Sabemos que os heróis de Kubrick são dilacerados por essas forças contraditórias que permeiam todos os seus filmes. Tomando como paradigma “O Iluminado” – mas não só ele – , de 1980, estrelado por Jack Nicholson, um crítico da época observou: “Há no homem qualquer coisa de naturalmente má. Uma faceta maléfica. Um dos interesses dos filmes de horror é de nos permitir ilustrar os arquétipos do inconsciente, onde podemos observar o lado obscuro sem o forçar diretamente.” Também é interessante observa que Kubrick, homem de letras sensível, sempre soube descobrir e liberar a “besta” que nos habita. Embora fosse tímido, reservado e perfeccionista, soube impor-se com autoridade em todas as suas empreitadas, sem levantar a voz, desde a juventude, examinando com rara lucidez, em cada um de seus filmes, o combate interno dos seus protagonistas, sob uma perspectiva diferente. Ressalte-se, igualmente, que suas obras raramente se aventuram em grandes diálogos, preferindo fazer chegar suas histórias ao público, através das imagens e da trilha-sonora. Certa vez o crítico Davi Denbi comparou-o ao monolito de “2001: Uma Odisseia no espaço”, qualificando-o de “força de inteligência sobrenatural, se manifestando a intervalos muito afastados de um concerto de gritos superagudos, para propulsar brutalmente a humanidade a uma escala superior de evolução.” A Exposição STANLEY KUBRICK, realizada na Cinémathèque Française, creio que em 2011, foi de uma completude impressionante: lá estavam expostas toda a sua iconografia composta por filmes, roteiros, indumentárias de personagens icônicos, objetos de cenários, etc. Até uma estante imensa, com tudo que se reportava a Napoleão Bonaparte, lá estava, esta destinada, originalmente, a subsidiar um futuro projeto fílmico de Kubrick, que acabaria não se materializando, por falta de financiamento. Todos ao Estação NET BOTAFOGO, esta tarde! Imperdível!

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