TRABALHO – Minissérie da Netflix
por Paulo Lima
Em sua nova atividade de produtores de cinema, Barack Obama e Michelle Obama continuam colocando a questão do trabalho no centro dos seus interesses.
Depois do sucesso do oscarizado documentário “Indústria americana”, que mostra a compra de uma fábrica de Ohio pelos chineses, o casal lançou agora a minissérie documental “Trabalho”, disponível na Netflix.
O título é autoexplicativo. Obama atua como apresentador dessa produção que investiga as condições atuais do mercado de trabalho nos Estados Unidos.
A inspiração da série vem de um estudo realizado nos anos 1970 pelo escritor e historiador Studs Terkel, reunido no livro de nome “Trabalho”. Nele, Terkel desce à realidade cotidiana dos trabalhadores americanos para descobrir o que pensam de suas atividades.
Um Obama misto de repórter e ator põe o pé na estrada por três regiões, Mississippi, Pittsburgh e Nova York, para explorar o que de fato ocorre com os trabalhadores de três atividades: hotelaria, assistência domiciliar e tecnologia.
A minissérie evidencia as transformações dramáticas verificadas nas relações de trabalho provocadas pela Inteligência artificial, a desigualdade social e a tecnologia.
As explicações sociológicas são amarradas ao cotidiano de homens e mulheres selecionados para a minissérie. Esse é o aspecto mais contundente e dramático do documentário, pois traz à tona a precariedade e a insegurança que ronda a grande massa de trabalhadores americanos.
Na base da pirâmide aparecem sobretudo mulheres negras e imigrantes dedicadas às atividades de cuidadoras e entregadoras que lutam para pagar as contas.
Há poucas e raras exceções, como a da dominicana Elba, que, morando há duas décadas nos Estados Unidos, logrou manter o mesmo emprego de camareira no hotel The Pierre e hoje apresenta uma vida organizada. E ainda a da faxineira Gail Evans, da Kodak, que chegou a ser diretora de tecnologia da mesma empresa.
Mas na maioria das situações o que vemos são trabalhadoras que ralam de sol a sol para subsistir, em empregos mal remunerados, em busca da realização dos seus sonhos.
Como contraponto a esse panorama em que se situa a maior parte dos trabalhadores americanos, a minissérie apresenta ocupações privilegiadas, como a do gerente geral do hotel The Pierre, a de um lobista e a de um engenheiro de robótica de uma startup voltada a projetos automobilísticos.
A minissérie escancara a degradação das condições de trabalho no país que criou a figura do “self made man” e cujos princípios de sucesso repousam na ética calvinista que prega que cada um ganhará o pão com o suor do próprio rosto.
No panorama visto pela investigação conduzida por Barack Obama, haja suor para que algum tipo de êxito seja alcançado.
“Trabalho” foca no contexto norte-americano, mas poderia representar tranquilamente a realidade dos brasileiros, submetidos à selvageria do capitalismo que, tanto lá quanto aqui, exibe suas garras aparentemente indomáveis.
Paulo Lima
Veja o trailer aqui