Uma boa e uma má notícia sobre o cinema digital.
A boa notícia é o recente lançamento do livro A Hora do Cinema Digital – Democratização e Globalização do Audiovisual, de Luiz Gonzaga Assis de Luca. A parca existência de estudos brasileiros (menos ainda publicados) sobre o cinema pelo seu viés tecnológico-industrial torna esse trabalho de suma importância. O autor retoma e aprofunda o tema de seu livro anterior, Cinema Digital – Um Novo Cinema, também da Coleção Aplauso/Imprensa Oficial do Estado de SP. Conta a história das transformações vividas pela exibição cinematográfica no Brasil e no mundo, e analisa o fenômeno da convergência digital, em que filmes, televisão, shows e jogos trafegam entre plataformas e decretam o fim da era das segmentações absolutas.
Um dos executivos mais destacados do setor no Brasil, Luiz Gonzaga não segue o estereótipo do exibidor brutamontes, mero comerciante de filmes. É culto, articulado, muito bem informado. Sua compreensão do cinema como negócio voltado para o lucro não o impede de reconhecer a diversidade e a dinâmica que atendem a um cinema culturalmente saudável. Basta ver seus elogios à experiência alternativa do Ponto Cine, de Guadalupe.
O livro disseca a selva de siglas e nomenclaturas relativas à projeção digital, enquanto levanta os entraves e as dúvidas ainda existentes no inevitável processo de substituição tecnológica. Como representante de uma das forças em luta pela hegemonia do mercado exibidor, Luiz Gonzaga equilibra-se delicadamente entre o modelo imposto pelos estúdios americanos (o DCI) e o “concorrente” mais importante no Brasil, o sistema Rain. Sua receita é de convivência entre as duas tecnologias para melhor atender às diferentes demandas do mercado brasileiro.
A má notícia – sobre a qual Luiz Gonzaga não se detém em seu livro – é a rotina de péssimas exibições digitais nos cinemas brasileiros. A coisa tem sido tão espantosa que críticos de vários estados se mobilizaram em torno de um texto redigido por Pedro Butcher e assinado pelo Fórum da Crítica, em protesto contra a deformação das tonalidades e do formato das imagens nas projeções digitais. Leia o texto simplesmente, ou assine a petição aqui.
Quem não se lembra da cópia literalmente tenebrosa de O Lutador que foi exibida no seu lançamento comercial? Quem não se incomoda com as imagens sem brilho e as frequentes deturpações do quadro e das proporções em sessões de mostras e festivais? A gota d’água para a revolta dos críticos pingou no último Festival do Rio, quando a cópia de Les Herbes Folles, de Alain Resnais, foi exibida com as partes laterais cortadas, verdadeiro atentado contra um esteta do cinema.
O manifesto da crítica, em forma de carta aberta aos responsáveis pelas projeções digitais, é também um alerta para o público: estão vendendo gato por lebre. O cinema digital chegou para democratizar o acesso, não para desvalorizar o ingresso.
Concordo, quando diz, que estão vendendo gato por lebre!
Trabalho numa rede de cinemas e o que sempre vi, em termos de Rain, é terrivel.
Uma tremenda falta de respeito, ao espectador, autor da obra, cineasta, enfim, a todos! Precisa muda este conceito e rapido! Como diz o Luiz Gonzaga: Normas Tecnicas, tem que serem seguidas.