“Intelectual não come ninguém”, diz Imperial já na primeira cena desse perfil coletado por Ricardo Calil e Renato Terra. É uma declaração de princípios que ele levaria ao pé da letra numa vida de produtor musical, compositor, jornalista, cineasta, apresentador de TV e abatedor de “lebres” em escala industrial. O documentário reúne depoimentos alheios, entrevistas do próprio e cenas de arquivo para surfar na história de Carlos Imperial, o cafajeste careta.
Embora mostre Roberto Carlos reconhecendo sua dívida para com o “bicho” que o levou para a CBS no início da carreira e cite outras estrelas beneficiadas pela argúcia marqueteira de Imperial, o documentário se dedica principalmente a recolher casos de pilantragem em várias frentes: músicas roubadas, mentiras plantadas na imprensa, estratagemas em busca de sucesso, surubas, exploração de menores, mistificações políticas. Imperial foi talvez o primeiro cafajeste midiático brasileiro. Fez da mídia o seu circo particular e de sua própria imagem um caleidoscópio de percepções contraditórias. Não é de estranhar que parceiros, amigos e mesmo parentes falem dele com um misto de admiração e repulsa, gratidão e queixa.
Mais que tudo, o filme descortina um mundo que praticamente não existe mais. Um mundo em que o machismo ostensivo era tolerado como graça moderninha, a fraude aceita como parte do sistema e a desonestidade podia até render elogios se viesse simpática e descontraída. De alguma forma, Imperial foi a cara do Rio numa certa época. Hoje e sempre, motivo de riso e de vergonha. ♦ ♦ ♦