PRIVACIDADE HACKEADA
Quando PRIVACIDADE HACKEADA (The Great Hack) bombou na Netflix em meados de 2019, todos já sabíamos que nossos dados virtuais são constantemente coletados e postos a serviço de interesses comerciais e políticos. Todos já havíamos passado pelas experiências eleitorais de 2018 e conhecíamos as de 2016 nos EUA, quando o efeito predatório das redes sociais resultou na vitória de candidatos da extrema-direita. A novidade, então, era relativa. Mesmo assim, o documentário de Jehane Noujahim e Karim Amer causou frisson pela forma como revelava a extensão da atuação de uma única empresa, a Cambridge Analytica, nos rumos da política global.
A eleição de Donald Trump e a aprovação do Brexit, impulsionadas por ações da C.A. junto ao Facebook, foram as vilanias mais badaladas, mas a interferência da empresa se estende a muitos outros países. Inclusive o Brasil, indiretamente, pela proximidade entre Steve Bannon e a família Bolsonaro – o que é apenas insinuado no filme.
Num esforço de reportagem fenomenal, os documentaristas levantaram a história por meio de três eixos principais: a ação do professor David Carroll para recobrar seus dados pessoais junto à Justiça britânica, as pesquisas da jornalista inglesa Carole Cadwalladr, do The Guardian, e as denúncias da arrependida Brittany Kaiser, ex-assessora de Obama que passou a servir aos republicanos quando contratada pela C.A. O efeito mais poderoso do filme é precaver o público quanto ao possível uso de seus posts, likes e comentários por corporações que atentam contra a democracia através de fake news.
O escândalo e posterior dissolução da Cambridge Analytica não deu por fim a esse perigo, uma vez que a conduta criminosa segue sendo aplicada por outras empresas e em diferentes contextos. Mas liquidou de vez com a “inocência” e a “neutralidade” das redes sociais. PRIVACIDADE HACKEADA, com sua linguagem dinâmica e o apelo de seus personagens (guerreiros e vilões), teve o mérito de ampliar o sinal de alerta.
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