Não é somente um trocadilho óbvio dizer que Alfred Hitchcock encontrou em Alma Reville sua alma gêmea. Um documentário foi feito na França para descrever esse encontro. Passa no Canal Curta! nesta quarta-feira, 4 de março, às 23 horas. Chama-se HITCHCOCK – O HOMEM POR TRÁS DO ÍDOLO, mas o título original diz melhor sobre sua intenção: Dans l’Ombre de Hitchcock – Alma et Hitch. A intensa e duradoura relação do casal, parceria de vida e trabalho, esteve sempre um tanto à sombra da imensa celebridade de Hitchcock.
Por mais de 50 anos, Alma e Hitch dividiram a intimidade da casa, o gosto artístico e a criação de muitos filmes – ela como roteirista e eventualmente montadora. Mas o grande público que sempre se deliciou com o “mestre do suspense” raramente atentou para essa parceria. O média-metragem de Laurent Herbiet, produzido para o canal Arte, ensaia uma pequena biografia do casal.
Em sua última fala pública, numa homenagem recebida em 1979, Hitchcock mandou uma de suas piadas típicas: “Um homem não vive só de assassinatos. Ele precisa de carinho, apoio, incentivo e, ocasionalmente, uma refeição saudável”. A frase simpática reforça a noção machista de que por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher. O documentário quer tirar Alma de trás de Hitch e trazê-la para o lado dele.
Consegue em parte. É provável que nunca se falou tanto dela num filme sobre ele. Ainda assim, é mais um filme sobre ele. Não ficamos sabendo como Alma trabalhava nos roteiros, nem a extensão de sua colaboração para os filmes do marido. Na maior parte do tempo, fala-se sobre a carreira dele. O que, em si, não é mau.
A narração ininterrupta ilustra a trajetória de Hitch com cenas de seus próprios filmes e enumera alguns dos principais temas de sua filmografia: o medo, as louras em perigo, as mães castradoras, o erotismo, a religião… Mencionam-se suas influências e as mudanças na vida do casal com a mudança para Hollywood.
No capítulo das indiscrições, conta-se que a relação dos dois foi por longo tempo platônica e que Hitchcock sofria de impotência. Do lado de Alma, a sombra de uma dúvida (já conhecida) sobre sua afeição pelo roteirista Whitfield Cook. Do lado de Hitch, a conhecidíssima obsessão por Tippi Hedren, que mais tarde o acusaria de assédio.
Embora falhe em fornecer um perfil mais substancioso de Alma Reville, o documentário pelo menos levanta a cortina de sobre a história do casal. E sugere que Alma estava na raiz de tantas personagens femininas de Hitchcock que eram tão ou mais inteligentes e fortes do que os homens.