JOVENS POLACAS
Em JOVENS POLACAS, Alex Levy-Heller procurou uma forma criativa de evocar as mulheres trazidas do Leste europeu em começos do século XX para a prostituição no Rio de Janeiro. Pode-se dizer que é uma forma cubista, apresentando a questão por ângulos desconexos e em estilos diferentes.
No centro de tudo está a pesquisa acadêmica de Ricardo (Emilio Orciollo Netto), que entrevista pessoas ligadas àquele passado. Entre elas, a filha de uma prostituta ucraniana (Jacqueline Laurence), um antigo empregado do prostíbulo (Flavio Migliaccio, impagável) e uma imigrante polonesa (Berta Loran, idem). Esse aspecto de falso documentário se mescla com flashbacks melodramáticos, encenações diretas para a câmera, tableaux bressanianos e inserções experimentais.
As intenções são boas, mas faltam técnica e aprimoramento artístico para dar conta de tantas ambições. O filme resulta, em sua maior parte, empolado e enfático, apesar das bonitas imagens compostas pelo fotógrafo Miguel Vassy.
A abordagem, baseada em livro de Esther Largman, realça o recalque de uma memória. As pessoas se recusam a falar daquele período, das “escravas brancas” e “moças enganadas” que vinham para o Brasil na esperança de casamento e vida melhor. A condição judaica de muitas delas só fazia agravar sua situação, à medida que o antissemitismo se alastrava no entreguerras.
JOVENS POLACAS toca nesses pontos com a saudável ambição de não ser didático nem direto demais. Usa diálogos em iídiche de maneira convincente e tem um final comovente no “cemitério das polacas”, no subúrbio carioca de Inhaúma. Se não carregasse tanto no dramalhão e fosse menos confuso nas pretensões narrativas, talvez soasse mais contemporâneo.