Qual a necessidade da arte?
Como a pandemia afetou seu trabalho, sua vida, sua rotina?
Qual a “sua” necessidade?
Essas três perguntas são endereçadas aos artistas convidados a participar do projeto Pandemiarte, criado por Gabriela Weeks e Fábio Gavião. O convite vai com uma justificativa do Fábio que inclui o seguinte: “Poucas pessoas têm a dimensão do espaço que a cultura ocupa em suas vidas, da engrenagem que movimenta a sua produção e menos ainda sabem sobre quem está por trás daquele produto cultural que consomem. Sendo assim, o meu objetivo com esse projeto é levar as artes para o público de forma emotiva e simples. Transmitir a emoção através de depoimentos sinceros, íntimos e cúmplices, na tentativa de estender a solidariedade àqueles que as acompanharam de forma invisível no desafio de se manterem sãos”.
As respostas podem chegar também em palavras, mas principalmente em materiais para a criação conjunta de uma peça audiovisual de curta duração. O elenco do Pandemiarte já inclui artistas visuais, escritores, músicos, atores e bailarinos. O Canal Curta! está exibindo trabalhos feitos em parceria pelos organizadores e os artistas plásticos Ricardo Becker, Franklin Cassaro, Marcos Chaves e Marlos Bakker; a bailarina Maria Alice Poppe; o músico Marcelo Lobato e a atriz Clarice Niskier.
Outros minivídeos estão disponíveis neste canal do Youtube. A artista visual Nathalie Nery, por exemplo, aparece num misto de performance e processo de elaboração de suas fantásticas peças com cones de folhas secas, que ela chama de “ocos”. O objetivo poético de “devolver as folhas à árvore” é tão plasticamente belo como comovente. O site de Nathalie tem outros trabalhos dessa série Mimetismo.
A atriz Ana Cotrim optou por usar fotografias como leito para seu desabafo sobre a falta que sente das dores e delícias do teatro. Geraldo Carneiro oferece poemas falados ou dispostos na tela como poesia visual, mantendo-se fiel ao “vício solitário de escrever”. Já o artista Marcelo Jácome apresenta uma espécie de Blade Runner de colagens enquanto afirma que sua maior necessidade é “continuar desejando” num mundo subitamente desmaterializado.
O baterista americano Steve Holloway comparece com animações feitas por ele próprio e um passeio por uma Times Square semivazia, cenário que não o desestimula a continuar fazendo sua arte das maneiras possíveis. Em Copacabana, sua Shangri-lá favorita, Fausto Fawcett explora o “fetiche das janelas”, expõe fotos de sua caótica mesa de criação e critica o “coliseu digital” em que vivemos.
Muitos diálogos estão ocorrendo entre a produção artística e a reflexão sobre o momento. Nesse universo, o projeto Pandemiarte se caracteriza pela diversidade e a realização na base da “guerrilha”. São pílulas estimulantes para tempos de incerteza. “Pandemiarte não é só sobre a pandemia, é sobre a arte, e sobre a necessidade da arte, tanto de fazer como de consumir”, diz Gabriela Weeks. “Vem a vacina, sim! Mas o Pandemiarte já é um tipo de vacina… sem a arte, não sobrevivemos”.