TARSILINHA no streaming
Tarsilinha pode servir de cartilha sobre como realizar um longa de animação de alta qualidade técnica, perfeitamente contemporâneo e profundamente brasileiro. Além de funcionar como mote de interesse pela obra de uma expoente do nosso Modernismo.
Inteiramente baseado na estética e em figurações da pintura de Tarsila do Amaral, o filme de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo encanta pela beleza deslumbrante de seus cenários e a graça de seus animagens (neologismo que acabo de criar para designar personagens animais). O fato de ser profundamente brasileiro não o afasta das tendências atuais nem do patrimônio fabular internacional.
A história, por exemplo, parte de um dispositivo que remete a O Mágico de Oz. Uma ventania com redemoinho invade a casa de Tarsilinha e carrega para longe os objetos do baú de recordações de sua mãe, deixando-a desmemoriada. Em desespero, a menina sai pelo mundo em busca de resgatar os objetos e, com isso, a memória da mãe.
Como no clássico de Victor Fleming, que mudava do preto e branco para o colorido na chegada de Dorothy ao mundo de Oz, Tarsilinha também troca a animação tradicional 2D pela computação gráfica (3D) quando a pequena heroína penetra no mundo encantado de Tarsila, a pintora. Ali, em meio às típicas paisagens de formas abauladas e cores vivas (clique nos links para ver os respectivos quadros), Tarsilinha vai enfrentar ou ser ajudada pelo Sapo Cururu, a Cuca, a Lagarta, o Tatu, o Touro, o Macaco e o Saci Pererê. Entre os itens a serem resgatados está a Flor de Manacá. Além de aparições cameo como A Negra, um devido destaque é reservado para o Abaporu, em cujo interior se desenrola o ápice da aventura.
A caracterização dos animagens é muito divertida. O Sapo tem um linguajar hilário, enquanto o Saci vende pés solteiros de calçado na Feira e a Lagarta coleciona memórias alheias para compensar sua vida insípida de lagarta. As cenas de ação em computação gráfica usam com inventividade as superfícies arredondadas de Tarsila sem contudo enveredar pela histeria dos similares hollywoodianos. É com esse equilíbrio entre movimento e humor, entre o contemporâneo e o modernista, entre Zeca Baleiro e Villa-Lobos que Tarsilinha se afirma como uma das melhores proezas da animação brasileira recente.
>> Tarsilinha está na plataforma Amazon Prime