PINÓQUIO no streaming
O filme de Robert Zemeckis é a terceira versão de Pinóquio (Pinocchio) a aparecer nos últimos três anos, após as assinadas por Matteo Garrone (live action) e Guillermo del Toro (animação). Zemeckis mescla as duas técnicas, ele que foi pioneiro em Hollywood com Uma Cilada para Roger Rabbit (1988). Nisso ele é mestre, como se vê no fino acabamento desse novo filme rico em detalhes. O apuro técnico, contudo, não foi suficiente para dar vida a um espetáculo que naufraga numa relação pai-filho irritantemente piegas.
A trama segue quase rigorosamente a mesma do clássico da animação disneyana de 1940: Gepetto (Tom Hanks) sonha em transformar seu boneco Pinóquio num menino de verdade. A estrela (When You Wish Upon Star) faz um milagre parcial e Pinóquio é mandado para a escola, mas desencaminhado por uma Raposa e levado para um show de marionetes, onde fica cativo. Com a ajuda do Grilo Falante, sua “consciência temporária”, ele foge, mas vai parar na anárquica Ilha dos Prazeres, uma Disneyworld pervertida onde as crianças bebem e destroem tudo antes de serem transformadas em jumentos. Mais uma vez, Pinóquio escapa a tempo e segue para sua última aventura junto a Gepetto no ventre de uma monstruosa baleia.
Depois de um primeiro ato à moda antiga em cenários toscanos, o filme adota o modelo mais contemporâneo de ação veloz, abrindo pequenas brechas para a porção musical. Mas o que prevalece é o tom de conto moral para crianças, que devem ser obedientes, amorosas e responsáveis. A reiteração dessa mensagem engessa esse Pinóquio numa armadura careta.
As atualizações de representatividade conferiram pele preta à Fada Azul e a uma marionete bailarina que não existia no filme de 1940, além de uma marioneteira portadora de perna mecânica. Nada disso afasta a impressão de que a Disney simplesmente diluiu seu clássico num filme certinho demais, mas sem espírito.
>> Pinóquio está na plataforma Disney+.
Pingback: Um Pinóquio “animado” demais | carmattos