Dizem que biógrafo de gente viva é como um cônjuge feliz: acompanha o biografado pelo resto da vida. Mas no meu caso, das cinco biografias que escrevi ou ajudei a escrever, somente uma, a de Vladimir Carvalho, deixou um rastro mais ou menos permanente. Depois do livro, continuamos próximos e compartilhando os principais acontecimentos da vida um do outro. Por isso estou aqui dando conta de mais um momento auspicioso na carreira do “Vlad”.
Nesta quarta-feira ele recebe o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília, onde lecionou documentário por 20 anos. Ao mesmo tempo, está lançando o DVD de Rock Brasília, editado pelo Canal Brasil. No próximo dia 10, vai “autografar” os discos na Livraria Travessa do Leblon. Em junho, o filme será exibido no festival de cinema brasileiro de Nova York, junto com o doc do irmão Walter sobre Raul Seixas.
Conterrâneos Velhos de Guerra, sua visão antiépica da construção de Brasília, enfim sairá em DVD brevemente pelo selo que sucedeu a Videofilmes. O também clássico O País de São Saruê, este disponível nas locadoras, foi objeto de uma revisita do diretor às locações no sertão paraibano, no final do ano passado. A viagem, 41 anos depois das filmagens, foi amplamente documentada numa série de matérias pelo jornal Correio da Paraíba (foto acima).
Mas tudo isso já é passado ou quase. O melhor é saber que Vladimir está enfiando a mão no barro para moldar o próximo trabalho. Como muitos que ele deixa decantando por anos, agora será a vez de fazer um documentário sobre o pintor Cícero Dias. A coleta de materiais já começou. Ele próprio filmou uma exposição do artista seis anos atrás em Paris, quando visitou seu ateliê e lá gravou depoimentos da viúva de Cícero, Raymonde, e da filha Silvia, afilhada de Picasso.
Algumas preciosidades alheias deverão constar do filme. Jacques Cheuiche já cedeu imagens inéditas gravadas com Cícero Dias, em cadeira de rodas, explicando a simbologia do Marco Zero, projeto de urbanização que ele concebeu para o centro de Recife (mais precisamente: a produtora Danielle Hoover cedeu imagens filmadas por Cheuiche). Também Walter Carvalho está passando para o irmão cenas que filmou em Paris com o pintor e João Moreira Salles, e que nunca foram usadas.
Em suas memórias trabalhadas por mim no livro Pedras na Lua e Pelejas no Planalto, Vladimir fala de como ressoa na sua lembrança o quadro Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife: “Sempre que vejo o painel de Cícero Dias, recordo o Recife que vivi aos 10 anos de idade. Ou pelo menos a impressão colorida e feérica que a cidade me provocou”. Ou seja, é provável que teremos mais um documentário, como tantos de Vladimir, dotado de uma certa dimensão autobiográfica.
Carlinhos,
Depois de Zé Lins, Vladimir lança um novo olhar sobre o Nordeste através de um grande artista.
Aguardo ansioso.
Abraços