Com o pseudônimo Ondjaki, o angolano Ndalu de Almeida é um cidadão do mundo que nos últimos anos tem a vida ancorada no Brasil. Além de escritor, ele é artista plástico e tem uma curiosa experiência de cineasta, que o Canal Brasil vai exibir amanhã (0h15 de terça para quarta) na Mostra África Hoje.
Oxalá Cresçam Pitangas – Histórias de Luanda, realizado em 2006 por Ondjaki e pelo documentarista Kiluanje Liberdade, tem seu título retirado de um verso do poeta Antonio Gonçalves. O filme abre algumas janelas para a intimidade da vida na capital de Angola, a agitada Luanda. Quase sempre o que se vê são conversas entre jovens de uma cidade apinhada de gente. Através de suas falas, cheias de gírias típicas e ritmo muito peculiar, conhecemos as delícias e os problemas de uma das maiores metrópoles africanas.
Os muitos anos de guerra deixaram marcas no país e fizeram grandes contingentes se mudarem do campo para a capital. Como resultado, o caos urbano, a explosão da economia informal e a violência são fatores de instabilidade na busca dos luandenses pela sobrevivência. Em contrapartida, eles têm a presença constante da música, a criatividade que os enche de orgulho e a rede de afetos que torna a existência mais leve e agradável.
Tudo isso pesou na balança dos documentaristas. Eles usam a câmera para colher impressões sobre a cidade e também para flagrar seu cotidiano nas ruas de periferia, nas casas, salas de aula, quadras de esporte e apresentações de kuduro, o fenômeno musical que nasceu em Angola. Oxalá Cresçam Pitangas quer revelar a realidade por trás da permanente fantasia luandense.
Jovem e premiado escritor, hoje personagem ubíquo na vida cultural carioca, Ondjaki teria outra (ainda mais curiosa) incursão no cinema: em 2008, foi assistente de direção do gaúcho Tabajara Ruas em Netto e o Domador de Cavalos.