ELEIÇÕES
A filmografia brasileira sobre processos eleitorais ganha um exemplar original e bem-sucedido com ELEIÇÕES, documentário de Alice Riff. Câmeras plantadas na escola estadual Dr. Alarico Silveira, no bairro paulistano da Barra Funda, Alice acompanha a formação de quatro chapas e a campanha eleitoral do grêmio escolar.
O exercício da política se faz aí como uma extensão do dia-a-dia na escola e também como uma ruptura na rotina. Um dos candidatos chega a admitir que entrou na chapa para ter oportunidades de “sair da sala”. Mas, para além das brincadeiras e zoações, há um desejo sincero de influir na situação do colégio e nas difíceis relações com a diretoria. No fundo, aqueles adolescentes secundaristas estão crescendo diante da câmera e aproveitando a chance de afirmar o que de fato lhes parece importante.
São quatro chapas na disputa: a das meninas feministas, a dos arautos da diversidade, a dos bem comportados (sobre os quais uma descoberta altera o quadro da campanha perto do final) e o dos que defendem uma nebulosa união de todos em benefício da escola. O tesouro que o filme nos reserva é testemunhar como cada um desses grupos se prepara, escolhe seu foco e se promove para o pleito. No pano de fundo, as grandes questões brasileiras aparecem em filigrana.
No bojo da campanha, Alice Riff coleta debates, protestos e opiniões sobre as condições materiais da escola, repressão policial, identidade de gênero e prioridades de vida. Tudo em regime de cinema direto, sem interferências explícitas dos documentaristas. Essa opção, quando bem usada como aqui, cria uma dramaturgia interessante, gerando expectativas sobre o desenrolar da campanha e o resultado da votação. Um divertido contraponto ao método é feito pelas reportagens de duas alunas Youtubers, as impagáveis Laura e Lívia.
ELEIÇÕES mantém seu aparato documental numa discrição eficiente, dando espaço para que os alunos se comportem muito à vontade e recebendo deles uma colaboração invejável. O resultado é um filme que nos familiariza com eficácia naquele meio e nos engaja vivamente no processo.
Além disso, a dinâmica política a que assistimos é o anúncio de um possível futuro do país, onde o conservadorismo e a explosão de identidades têm muitas batalhas a travar.
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