Bianchi (e outros) online

Diversão de domingo:

Não sei se os filmes do Sérgio Bianchi são exatamente objetos de diversão, mas a notícia de sua chegada à web é muito boa. O site Elo Cinema está disponibilizando online, gratuitamente e com boa qualidade, três longas, três curtas e o média Mato Eles?, do realizador paranaense.

Os longas Maldita Coincidência (1979), Romance (1988) e A Causa Secreta (1994) são os seus três primeiros. Já demonstram a acidez com que Bianchi diagnostica o funcionamento da sociedade, assim como se observasse ratinhos submetidos a experiências estressantes. Mas tenho uma admiração especial por Mato Eles? (1982), o doc sobre as relações entre índios e diretores de cinema – no caso, o próprio Bianchi. A reflexividade irônica do filme, colocando em xeque as boas intenções dos documentaristas, foi tão reveladora para a década de 1980 quanto Jogo de Cena e Santiago foram para os anos 2000.

Colocar seus filmes na rede é prática que aos poucos se dissemina entre os cineastas brasileiros. O pernambucano Kleber Mendonça Filho disponiblizou recentemente oito curtas seus no Vimeo. Guilherme de Almeida Prado, diante da dificuldade de lançar Onde Andará Dulce Veiga em DVD, tomou a iniciativa de botá-lo num site de megaupload.

Uma boa oferta de filmes brasileiros está no Elo Cinema. Grande parte da produção da Vera Cruz (inclusive os docs) pode ser vista no site, assim como filmes de Walter Hugo Khouri, entre eles Corpo Ardente e As Amorosas. O menu inclui documentários de Miriam Chnaiderman e Toni Venturi. Apesar do predomínio de filmes paulistas, também se pode encontrar o simpaticíssimo Dib, perfil de Dib Lutfi pela carioca Marcia Derraik.

5 comentários sobre “Bianchi (e outros) online

  1. Obrigado, Carlos Alberto. Estou na expectativa da estreia (acho que na próxima sexta, né?). Tenho a desconfiança de que a ausência da autoreflexividade na ficção tem muitos motivos, éticos e estéticos. Tem me interessado, sobretudo, o motivo ético, o qual acho que diz respeito à representação do outro de classe. Para não borrar o discurso sobre o outro, evita-se o discurso de si, de auto-acusação, de culpabilização pelo poder de narrar dado ao cineasta/narrador intelectual-classe média. Por outro lado, muitas considerações estéticas têm que ser levadas em conta nesse processo de passagem da literatura ao cinema. Não sei, estou divagando aqui. E me desculpe por fugir ao assunto do post. Valeu pela dica! Abraço!!

  2. Verdade, Carlos Alberto. Bianchi faz isso. Me parece que na ficção foge-se um pouco dessa questão… Fico pensando, por exemplo, em romances autoreflexivos que foram adaptados e perderam esse dado na tela (“A Hora da Estrela” e “Abril Despedaçado”). Na verdade, essa reflexão é do Guilherme Sarmiento, no “Cinema Brasileiro – 1995-2005” [Daniel Caetano, org], mas estou tentando expandi-la. Obrigado! Abraço!

  3. Olá Eduardo, o próprio Bianchi tem um exemplo em “Cronicamente Inviável”, quando rebobina o filme para alterar (para pior) a cena do mendigo que cata restos de um restaurante. É uma intervenção do diretor através do dispositivo de edição com vistas a incluir-se no sadismo social representado. Agora não me lembro, mas certamente há incidências de metalinguagem reflexiva em outros filmes fic por aí. Abraço!

  4. Excelente notícia. Consegui há pouco tempo baixar “Mato Eles?”, mas nunca conseguia encontrar “A Causa Secreta”. Obrigado, Carlos Alberto. Vou explorá-lo pedindo uma informação: sabes algo a respeito dessa autoreflexividade do diretor e/ou narrador intradiegético no cinema brasileiro de ficção? Percebo com frequência nos documentários, mas tenho dificuldades em enxergar essa questão na ficção. Estou às voltas com uma pesquisa que vai nesse caminho. Muito obrigado e, mais uma vez, parabéns pelo blog. Eduardo

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