ASSIM É SE LHE PARECE
de Carla Gallo
Enquanto montava sua Ocupação no Itaúcultural, Nelson Leirner deixava-se “perfilar” por Carla Gallo (O Aborto dos Outros) para a série Iconoclássicos. Nelson é um show para esse tipo de abordagem leve e sem grandes compromissos biográficos. Sua relação muito íntima com o pop e o burlesco, seu passado de performer, sua visão dessacralizada da arte, tudo conflui para a imagem de um artista ao mesmo tempo irreverente e bonachão, carismático e irônico.
O filme aproveita bem os momentos passados com Nelson. Lá está ele comprando bugigangas para seus ready-mades (o “impulso de camelô”), cumprindo seus rituais de homem de várias religiões (“o que equivale a nenhuma”) ou passando seus princípios sobre arte em conversas informais com jovens artistas plásticos. São aulas de apropriação transcultural cujo poder de divertir repassa para o espectador.
Alguns materiais de arquivo ilustram as atividades de Nelson nos anos 1960 e 70, como os happenings do Grupo Rex e seus flertes com o Super 8 e o cinema marginal. Mas o que prevalece é a simpática visita ao artista no presente, deliciando-se com seu “inferno” dito da boca pra fora.