Beatles transcendentais

O documentário MEETING THE BEATLES IN INDIA é uma das grandes atrações do Festival Cinema e Transcendência, que começa hoje online e gratuito. 

Foto: Paul Saltzman (clique para ver maior)

Em fevereiro de 1968 os Beatles estavam passando uma temporada na Índia, mais precisamente no ashram do guru Maharishi Mahesh Yogi, em Rishikesh. Aprendiam meditação transcendental e compunham dezenas de músicas, muitas das quais entrariam no Álbum Branco. Por uma feliz coincidência, lá chegou o jovem canadense Paul Saltzman depois de atuar como técnico de som numa filmagem inglesa na Índia. Cinquenta anos depois, já estabelecido como produtor e diretor de cinema, Paul decidiu remontar àquele incrível encontro no documentário Meeting The Beatles in India.

O filme é uma das grandes atrações do 8º Festival Cinema e Transcendência, que começa hoje inteiramente online e gratuito (leia mais abaixo).

Paul Saltzman saiu atrás das lembranças suas e alheias daquele episódio à margem do Ganges. Ele se mostra particularmente encantado com a forma simples e alegre com que os Beatles logo enturmaram o canadense desconhecido. Durante uma semana de convivência, deixaram-se fotografar, filmar (Saltzman operando a câmera de Ringo quando este queria aparecer no quadro) e ouvir enquanto elaboravam hits como Ob-La-Di, Ob-La-Da e The Inner Light. Especialmente em George Harrison, já bem familiarizado com a cultura indiana, ele encontrou um bom interlocutor para as angústias que o tinham levado até o ashram: o difícil relacionamento com o pai, o “chute” de uma namorada e o interesse em sondar o seu “outro eu”.

Paul Saltzman e Ringo Starr

Meeting The Beatles in India é tanto sobre os Beatles quanto sobre Paul Saltzman. Ele reitera os benefícios da meditação transcendental, para isso recorrendo também a David Lynch, que relata mais uma vez sua inflexão rumo à espiritualidade. Entrevista a ex-namorada e a ex-cunhada de George, filma uma visita veloz ao Beatles Museum em Liverpool, vai ao Havaí conversar com o personagem que inspirou The Continuing Story of Bungalow Bill e retorna a Rishikesh na companhia do historiador Mark Lewisohn, especializado em Beatles. Naquela semana de 1968, estavam no ashram também o compositor Donovan e a atriz Mia Farrow, todos encantados com os ensinamentos e o bom humor do Maharishi.

A relação dos Beatles com a Índia estimulou em muito a procura dos jovens ocidentais pelas práticas da ioga, da meditação e de um estilo de vida espiritualizado à moda oriental – c0m ou sem a ajuda de drogas. Saltzman não aprofunda esses aspectos, mas expande um bocado nosso conhecimento dessa faceta dos FabFour. A Sony e a Apple Music, detentoras dos direitos das canções dos Beatles, não cederam aos pedidos do documentarista, o que pode gerar uma lacuna na expectativa do público. Mas nada impede que logo depois de ver o filme a gente possa ouvir o Álbum Branco e checar como tudo aquilo tomou a forma de música.

Meeting The Beatles in India atende perfeitamente à proposta do Festival Cinema e Transcendência, que tem como curadores o cineasta e músico André Luiz Oliveira e a pesquisadora Carina Bini. A ideia é ser “uma janela de exibição para lançamento, circulação, discussão e reflexão da experiência de transformação pessoal a partir da imagem audiovisual”. A abertura desta oitava edição será com o documentário brasileiro Samadhi Road, dos irmãos Daniel e Julio Hey, primeiro rebento da produtora Irmãos Ahimsa, dedicada a projetos fundados em uma cultura de não violência (ahimsa) e de autoconhecimento. No filme, os diretores saem em busca de sabedoria diante de entrevistados como os músicos Gilberto Gil e Sonny Rollins, a filósofa Agnes Heller e o líder espiritual Mooji.

Na programação está também Mission: Joy, de Louie Psihoyos e Peggy Callahan, que registra o encontro do líder tibetano Dalai Lama com o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu. Beijing Spring, de Andy Cohen, cobre o levante de artistas e escritores em protesto à repressão do novo governo chinês. Tenzo, de Katsuya Tomita, acompanha a jornada de dois monges após o desastre de Fukushima. No total, são 11 filmes e mais quatro em homenagem à cineasta e monja zen-budista Tânia Quaresma, falecida em julho último.

No site do evento é possível acessar todos os filmes, lives e o show multissensorial de abertura hoje às 20h com o grupo Gharana Eletroacústica, do qual faz parte André Luiz Oliveira. Além de ótimo cineasta, André é também um exímio intérprete de instrumentos indianos clássicos.

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