Estranhos num trem

VAGÃO Nº 6 no streaming

Candidato da Finlândia ao Oscar 2022, Vagão Nº 6  é um rail movie com mensagens. Enquanto um trem vence os 1.848 km de Moscou a Murmansk, no extremo norte da Rússia, o diretor finlandês Juho Kuosmanen (do encantador O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki) arma a frágil trama que vai demonstrar os recados contidos no romance original de Rosa Liksom.

O primeiro é mencionado explicitamente numa cena: “Todos nós somos sozinhos”, diz o porralouca Ljoha (Yuri Borisov), que compartilha a cabine Nº 6 do trem com a finlandesa Laura (Seidi Haarla). Ela deixou uma recente namorada em Moscou, onde estudava russo, para visitar inscrições rupestres na polar Murmansk em pleno inverno. O choque com o alcoólatra, grosseiro e assediador Ljoha cria um início de viagem aterrador. Aliás, a Rússia que Laura testemunha é marcada por rispidez, má vontade e desolação.

Mas aí vem a segunda mensagem: não devemos nos guiar pelas primeiras impressões. O longo percurso ferroviário, com demoradas escalas, vai levar Laura a algumas descobertas desconcertantes. Principalmente a respeito de Ljoha, mas não só.

Esse é um tipo de filme que depende muito da nossa capacidade de aceitar transformações profundas em personagens num curto espaço de tempo. A mim, certas mudanças de conduta pareceram meros atalhos dramatúrgicos para acessar mais rapidamente o “outro lado” dos personagens. É bem louvável o desejo de construir figuras ambivalentes como essas, mas não à custa de implausibilidades como as que levam Laura a seguir Ljoha.

O fato de se passar na década de 1990, sem internet, justifica precariamente o fato de planejarem uma viagem a um sítio arqueológico sem checar as condições de acesso no inverno. Propicia também um certo desgarramento entre as pessoas, o que favorecia uma espécie de “solidão de época”, pré-celular e pré-redes sociais. Terreno propício à germinação de imprevisíveis sementes de afeto.

>> Vagão nº 6 está na plataforma Prime Video.

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