Com a vida nas mãos
Pode ser que me tenha faltado sensibilidade feminina para apreciar melhor TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL, mas arrisco dizer que Raven Jackson ainda precisa de substância para preencher sua bonita embalagem.
Pode ser que me tenha faltado sensibilidade feminina para apreciar melhor TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL, mas arrisco dizer que Raven Jackson ainda precisa de substância para preencher sua bonita embalagem.
“171” nos dá o prazer de navegar nas ondas ardilosas e divertidas de seis pseudo-profissionais da mentira. Para seu diretor, é um passo além na exploração do falso no documentário.
Mais que o enredo em si, o que me conquistou em NAYOLA foi mesmo a qualidade da animação enquanto arte visual.
O documentário RAZÕES AFRICANAS usa performances e didatismo para falar da herança africana na música das Américas.
Só nos 15 minutos finais é que Sissako enfim traz à cena sua intenção de denunciar o preconceito anti-africano entre os chineses. Mas então o chá já esfriou há tempos, e é tarde para BLACK TEA exalar seu aroma.
MAPUTO NAKUZANDZA recorre ao formato das antigas sinfonias de cidades para revelar (e fantasiar) um dia na vida da capital de Moçambique. Um misto de documentário, ficção e experimentação.
O veredeiro que dá título ao documentário SANTINO é mais um personagem ao mesmo tempo simplório e extraordinário que atrai o interesse de Cao Guimarães.
BRAZYL, UMA ÓPERA TRAGICRÔNICA tem momentos muito palavrosos e não dá muita bola para a sutileza. Em compensação, nos brinda com uma verve carnavalesca e uma convicção antiautoritária que têm sido raras no cinema brasileiro.
O chileno NO LUGAR DA OUTRA parte de um fato verídico para fazer um estudo de personagem obcecada pela fantasia de ser outra pessoa. Na Netflix.
A curva temporal muito ampla e o acúmulo de subplots acabam por prejudicar a densidade de MADAME DUROCHER, que resulta muito episódico e novelesco, como se fosse uma minissérie condensada.
Fernanda Torres está extraordinária, sem dúvida, em AINDA ESTOU AQUI, mas sua atuação se beneficia de tudo o que está ao redor: a excelência na condução de todo o elenco, a vivência da casa e sua tocante despedida, o sentimento de época tão bem evocado nas imagens e nos sons.
A despeito de sua fundamental dubiedade quanto aos efeitos políticos desse retrato de Donald Trump, O APRENDIZ é um entretenimento engenhoso.
O DIA DA POSSE faz uma singela afirmação de saúde na esfera privada em meio à crise sanitária e política por que passava o Brasil no seu plano público em 2020.
A série ENCONTROS COM O CINEMA AFRICANO, de Joel Zito Araújo, quer reduzir um imenso déficit no nosso conhecimento. A partir de hoje (2/11) na TV Brasil.
MALU tem a dureza das palavras que ferem, mas também um humor inesperado que nos conecta em níveis diferentes com aquelas três mulheres. Estamos diante de um microcosmo da complexidade da vida.
O QUARTO AO LADO tem closes magníficos das atrizes, mas patina um bocado, ora em flashbacks esquemáticos, ora nas ruminações repetitivas de Martha em sua desistência de sobreviver.
A trama de RECEBA! é contada de modo um tanto rocambolesco, com voltas no tempo e pontos de vista distintos, em busca de um gato-e-rato à moda do Tarantino inicial.
Apesar dos muitos clichês nos diálogos sobre administração do luto e superação de perdas, Othon Bastos e Emilio Orciolo Neto têm uma interação convincente em O VOO DO ANJO.
O Brasil empobrece um bocado sem o olhar de Vladimir Carvalho. O “cabra” nos deixa, mas seus filmes e sua memória já têm sobrevivência garantida entre nós.
Na onda de true crimes que invade os cinemas e o streaming, A GAROTA DA VEZ tem virtudes acima da média, sendo um bom cartão de visitas para Anna Kendrick como diretora.
Na Mostra de SP, o resgate de AUTO DE VITÓRIA, curta híbrido que Geraldo Sarno considerava mais importante do que “Viramundo”.
De Maria Prestes a Marielle Franco, passando por Olga Benário e Dilma Rousseff, o documentário MARIAS propõe uma linhagem de bravas mulheres que representam o melhor da consciência política brasileira.
A produção senegalesa BANEL & ADAMA trata da oposição clássica entre as liberdades do amor romântico e as convenções de uma sociedade baseada nas crenças e na tradição.
Não há como negar um quê de etarismo em A SUBSTÂNCIA, nessa ideia de que o envelhecimento é algo feio e decadente, tendendo mesmo à monstruosidade.
Para tratar de assunto árido à percepção leiga, Ana Costa Ribeiro optou por poetizar o campo da Ciência. TERMODIELÉTRICO é um documentário eivado de intenções poéticas e calcado na história de sua família.
Dira Paes, em PASÁRGADA, sua primeira experiência na direção, requer do espectador uma disposição de ornitólogo para esperar que o filme “apareça”.
Uma bela imersão no imaginário yanomami e um alerta sobre o apocalipse – eis A QUEDA DO CÉU, que passa no Festival do Rio.
ASSEXYBILIDADE é um manifesto contra o capacitismo, o preconceito segundo o qual as pessoas com deficiência seriam incapacitadas para a vida – e para o sexo.
O DIA QUE TE CONHECI me pareceu partir não mais do desejo de narrar uma história, mas da intenção de explorar um método. A singeleza deixa de ser uma contingência para se tornar uma meta.
Apesar de uma montagem problemática, TERRA DE CIGANOS faz um painel colorido e sugestivo desse povo que se intitula “reis do nada” e ao mesmo tempo “perfume da Terra”. Dia 26/9 nos cinemas.
É Tudo Verdade: ANTONIO CANDIDO – ANOTAÇÕES FINAIS mostra o retrato de um homem profundamente lúcido em sua cerimônia do adeus. Resenha de Paulo Lima.