Pintura e erotismo em chave “europeia”

VERMELHO MONET    

Existe uma paixão sincera pela pintura em Vermelho Monet. O diretor Halder Gomes, reconhecido pelo sucesso de comédias populares nordestinas como Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão, é um aficionado que também pinta e desenha. O ator Chico Diaz é um pintor de mão cheia, possuindo assim um savoir faire especial para interpretar Johannes Van Almeida, exímio falsificador de telas que acaba de sair da prisão em Lisboa.

Johannes parece acometido por um princípio de Parkinson e sofre a perda de visão das cores. Vive com Adele (Gracinda Nave), pintora imobilizada pela Alzheimer, e se vê obcecado pela imagem da atriz Florence Lizz (Samantha Müller), que se parece com Adele jovem.

Numa trama intrincada que envolve pintura e erotismo, Florence é seduzida pela sofisticada marchand Antoinette (Maria Fernanda Cândido) e levada ao ateliê de Johannes para uma última cartada no jogo das falsificações. O mercado de arte é comparado à prostituição e à manipulação, a ele se opondo a ideia de um “amor original”, algo que não teria preço.

À medida que a trama avança por caminhos tortuosos, sobrepondo camadas como num palimpsesto, assomam também as fragilidades do filme. A conduta empertigada dos negociantes de arte, as posturas posadas do elenco e a quantidade de frases feitas sobre o métier em línguas diversas traem uma certa artificialidade na caracterização daquele mundo ostensivamente “europeu”.

O acúmulo de referências abrange fados e poemas de Florbela Espanca, que será interpretada por Florence num filme em preparação. A narrativa é dividida em “movimentos” musicais e embebida em temas bastante conhecidos da música clássica. Sucedem-se as citações de quadros famosos, no que prevalecem a belíssima fotografia de Carina Sanginitto, a direção de arte de Juliana Ribeiro e os figurinos de Mia Lourenço.

Vermelho Monet quer seduzir permanentemente o espectador pela estetização e pelo barroquismo. As cores, com predominância óbvia do vermelho mas também do azul, provocam os sentidos com intenção visivelmente erótica. A montagem é com frequência acionada para criar paralelos entre o trabalho com as tintas e a fruição dos corpos. A pintura como coisa visceral, comparável à irracionalidade das paixões. Um pouco menos de intencionalidade e de subtextos pretensamente chiques faria bem a essa guinada radical de gêneros por parte de Halder Gomes.

>> Vermelho Monet está nos cinemas. 

Deixe um comentário