Sangue sobre a serra

MACABRO 

A expressão “inspirado em fatos reais” concede aos filmes uma larga margem de infidelidade aos tais fatos. Talvez seja melhor nem considerá-la a respeito de MACABRO e tomá-lo como um trabalho de pura ficção. Marcos Prado (Estamira, Paraísos Artificiais, Curumim) partiu dos casos do serial killer que assombrou a região serrana de Nova Friburgo em meados dos anos 1990 e de um policial do Bope que matou um homem inocente em 2010. No roteiro de Lucas Paraizo e Rita Glória Curvo, os dois personagens se juntam numa mesma época e numa mesma história.

O sargento Teo, abalado pelo engano durante batida numa favela, é designado para investigar o caso de Ibrahim e Henrique de Oliveira, os “Irmãos Necrófilos” que viriam assassinando mulheres na Serra dos Órgãos. Teo tem raizes naquela área, o que o coloca em contato com seu passado. Temos, então, como nos Tropa de Elite (produzidos por Prado), um filme que se passa na consciência do policial. Pressionado pelos superiores e pela sociedade local, Teo desconfia que os crimes são cometidos somente por um dos dois irmãos acusados. Ele não quer repetir o erro anterior. Está em busca de redenção profissional e também pessoal, como veremos no seu reencontro com uma prima muito querida.

A opção pelo filme de gênero(s) é feita com muito apetite. MACABRO é um misto de buddy movie policial e filme de horror, com fumaças de drama psicológico. Apela bastante aos sobressaltos e às crendices dos moradores, que associam o pânico e o desconhecido com a macumba e o demônio. Carrega bastante na caracterização negativa de alguns personagens e nos detalhes gráficos dos cadáveres das vítimas. As tintas fortes e a ficcionalização assumida de certos episódios (como a morte dos pais de Ibrahim e Henrique) são usadas para pintar um cenário de racismo, violência social e até pedofilia como pano de fundo dos crimes. Segundo Marcos Prado, uma pesquisa sobre a destruição dos quilombos daquela região por colonos suíços que se apossaram das terras e das plantações dos quilombolas na década de 1820 fornece as raízes históricas do quadro pintado pelo filme.

A fotografia de Azul Serra, a direção de arte de Ula Schliemann e as equipes de som e montagem garantem um ótimo nível técnico, enquanto os atores se ressentem de interpretações um tanto uniformes, com poucas variações dramáticas. De qualquer forma, o filme sustenta o interesse até o final eletrizante, quando Teo tem que decidir entre a ética e o instinto.

 

2 comentários sobre “Sangue sobre a serra

  1. Olá.
    Sou da região serrana e trabalhei no Criam de Nova Friburgo, onde Henrique esteve internado. Tinhamos uma equipe multidisciplinar q acompanhava o caso .
    A equipe, nesta época, fazia estudo de caso para o judiciário q, tb permitia discussões com a prefeitura, escolas , grupos de apoio social. Etc. Henrique tinha ido parar lá por fazer sexo com uma menina da sua região. Ambos menores. Mas, ele, sem apoio comunitário ou familiar foi preso e encaminhado para o Criam. Gostaríamos de falar sobre este caso e sua repercussão. Nosso ponto de vista, nossas indicações, nossa percepção técnica e afetiva da família e dos meninos aqui denominados ; Macabros

Deixe um comentário