Amizade nas alturas

AS OITO MONTANHAS

Minha avaliação é de que a crítica internacional superestimou esse drama macambúzio de dois amigos unidos por laços indefiníveis e separados por estilos de vida muito diferentes. O título As Oito Montanhas (Le Otto Montagne) faz menção a uma crença nepalesa de que alguns homens dão a volta ao mundo (as oito montanhas) enquanto outros permanecem fincados num pico que existiria no centro.

Assim são os protagonistas do filme dirigido pelo casal belga Felix Van Groeningen e Charlotte Vandermeersch a partir de romance do italiano Paolo Cognetti. Pietro (Luca Marinelli) vive em Turim e, quando criança, faz amizade com Bruno (Alessandro Borghi) durante os veraneios de sua família nas montanhas do Piemonte. A relação dos dois se estende mesmo depois de passarem 15 anos sem se ver. Nesse período, Pietro se afastou dos pais e Bruno de certa forma tomou o seu lugar.

Em longos 147 minutos, assistimos a sucessivos reencontros dos dois amigos na montanha. Pietro encontra seu lugar em outras montanhas, as do Nepal, mas o vínculo com Bruno se mantém. Trata-se de um filme de homens, ora tangenciando uma homoafetividade nunca concretizada, ora especulando sobre a incompreensão entre pai e filho. As mulheres têm um lugar quase apenas decorativo, pois não há espaço para elas em tal elogio do afeto e do ethos masculino.

O cenário dos Alpes italianos enche os olhos em tomadas épicas sobre rochas e escarpas nevadas. As lânguidas canções em inglês de Daniel Norgren soam completamente deslocadas nesse contexto profundamente italiano. Por razões que me escapam, As Oito Montanhas foi distinguido com o David di Donatello de melhor filme italiano e melhor roteiro adaptado de 2022 e o prêmio do júri no Festival de Cannes. Quem sou para discutir?

>> As Oito Montanhas está nos cinemas.

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