Fábula motivacional

O PRIMEIRO DIA DA MINHA VIDA

Esse filme italiano me bateu como uma dramatização sobrenatural do que no Brasil conhecemos como Centro de Valorização da Vida, que atua na prevenção de suicídios. Quatro pessoas infelizes têm seus impulsos suicidas interrompidos por um homem misterioso (Toni Servillo), que suspende suas vidas por uma semana para mostrar-lhes a falta que fazem no mundo.

São elas uma mãe devastada pelo luto, um coach motivador que perdeu a motivação de viver, uma atleta frustrada que se tornou cadeirante e um menino explorado pelos pais como youtuber. Durante uma semana de incongruências dramatúrgicas, eles circularão por uma Roma sombria como semivivos, testemunhando o impacto de seus desaparecimentos e sem serem vistos pelos demais.

O filme se inscreve precariamente numa linhagem que vem de A Felicidade não se Compra e chega a Depois da Vida, de Kore-eda. Com esse último, ainda compartilha a projeção de cenas imaginárias de cada personagem em forma de filme.

Embora discuta tangencialmente o direito ao livre arbítrio para se acabar com a própria vida, o que mais ressoa no filme de Paolo Genovese (baseado em romance dele próprio) é o tema da redescoberta do valor da vida, da importância do afeto e dos laços que podem ser criados a partir de qualquer ponto da nossa trajetória. Se isso lhe soa como fábula motivacional, você está no caminho certo.

O Primeiro Dia da Minha Vida (Il Primo Giorno della mia Vita) é permanentemente bafejado pelas mensagens de motivação, ainda que nem sempre explicitadas para além do meio sorriso fixo no rosto de Toni Servillo. Aqui e ali sobressaem toques de humor mórbido. O estilo da encenação eu chamaria de naturalismo fantástico, uma vez que nada transcende o cotidiano mais prosaico.

>> O Primeiro Dia da Minha Vida está nos cinemas.

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