Nicolas Cage em epidemia noturna

O HOMEM DOS SONHOS              

O status atualmente muito fluido de celebridade tem sido bastante abordado pelo cinema, mas Kristoffer Borgli tem encontrado vertentes originais para tocar no assunto. Em Doente de Mim Mesma, ele tratou da competição pela fama num casal. Em O Homem dos Sonhos (Dream Scenario), ele avança para o campo da psique coletiva.

Substitua-se a internet pelos sonhos e vejamos o que acontece com Paul Matthews (Nicolas Cage), um obscuro professor de biologia que de repente começa a aparecer nos sonhos de milhares de pessoas. O argumento sugere um mix de Charlie Kaufman e Woody Allen à medida que o patético Paul tem que lidar com a popularidade instantânea e as propostas de agenciamento comercial que lhe chegam. Mas eis que uma repentina virada no subconsciente coletivo faz o cara aparecer não mais como um impávido observador ou um deflagrador de fantasias eróticas nos sonhos alheios, mas como algo bem diferente. Um Paultergeist.

Pessoas são influenciáveis, e a subcultura dos influencers tomou conta do cenário contemporâneo. Paul transforma-se num influencer involuntário que experimenta os dois lados da notoriedade. Difícil imaginar alguém mais apto ao papel do que Nicolas Cage. Ele nos diverte com a volumosa fragilidade de Paul, homem ordinário transformado tragicamente numa espécie de meme vivo.

O Homem do Sonhos é um filme ágil e comunicativo. Perde-se um pouco no final, quando ensaia uma deriva para a crítica das indústrias editorial e virtual. Ainda assim, mantém viva sua bem-humorada hipótese sobre a crescente desmaterialização da nossa realidade.

>> O Homem dos Sonhos está nos cinemas.

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