3 ATOS DE MOISÉS

A história do pianista Moisés Mattos é dessas exemplares de uma ascensão quase improvável. Nascido numa família mestiça e humilde em Juiz de Fora, com parentes portadores de saúde mental comprometida, Moisés perseverou no seu sonho até tocar em salas de concerto da Alemanha. No documentário 3 Atos de Moisés, é ele mesmo quem conta sua trajetória, em caminhadas e apresentações entre a terra adotiva e a terra natal.

O menino gay e interessado em aplausos teve que abandonar a igreja onde aprendeu a amar a música, mas que não aceitava bem suas opções. Um dos momentos mais comoventes do filme é o seu reencontro com a funcionária do conservatório que facilitava a entrada clandestina do garoto para praticar num piano de verdade. Antes disso, ele brincava de teclado nas madeiras da pequena oficina do avô. Mais tarde, a ida para a Universidade de Bremen foi um passo que o documentário prefere deixar numa elipse.

“Aprendi no caminho” é o título do segundo ato do filme, referência também ao gosto de Moisés pelas caminhadas. Vemos o rapaz correr com sua mochila pelos metrôs de Hamburgo para dar aulas particulares de piano, certamente uma forma de se sustentar no exterior. Ter a grande Martha Argerich na plateia de um pequeno concerto seu foi um marco afetivo para alguém que cultua com tanto fervor a vida à beira do piano.

É uma pena que o documentário de Eduardo Boccaletti tenha cessado suas gravações antes de Moisés se apresentar em salas mais importantes, como a Elbphilharmonie de Hamburgo. O retrato profissional que emerge do filme parece desatualizado e com problemas de construção e acesso que o deixam aquém do eventual êxito do músico.

Ainda assim, o entusiasmo e o amor de Moisés por sua arte nos tocam bastante, assim como o seu reconhecimento por quem apoiou seu sonho. As performances de composições suas fazem o fundo sonoro da maior parte do filme, evidenciando musicalidade e talento na execução.

>> 3 Atos de Moisés está nos cinemas.