É Tudo Verdade: 78/52

Misto de análise técnica, contextualização histórica e conversa de cinéfilos, o filme de Alexandre O. Philippe disseca a celebérrima sequência do chuveiro de Psicose. Foram 78 planos e 52 cortes para construir uma das cenas mais chocantes e influentes da história do cinema.

Atores, diretores, montadores e músicos ligados aos gêneros de suspense e terror, sentados diante de monitores de TV, reveem e comentam não apenas essa, mas diversas passagens de Psycho, com sua carga de alegorias sobre medo, culpa, excitação sexual e punição. O espírito dos EUA em fins dos anos 1950 teria forjado a oportunidade para um filme sobre a vulnerabilidade de quem se julgava seguro no ambiente doméstico (um banheiro, por exemplo).

Até as mães já estavam se tornando suspeitas no cinema americano da época. O próprio Hitchcock havia prenunciado, em filmes anteriores, o teor de sexo e violência que explodiria no Bates Motel. Ainda assim, nada havia preparado o público para o impacto gráfico e sonoro daqueles três minutos.

O documentário navega entre os planos, examina detalhes da filmagem, revela o processo de fabricação visual e sonoro. Uma das pessoas entrevistadas é a dublê de Janet Leigh, muito orgulhosa do seu papel oculto no firmamento cinematográfico.

A maneira como a cena influenciou o cinema subsequente é fartamente exemplificada numa sucessão de assassinatos sexualizados, banhos fatais, sátiras (uma das quais protagonizada por Jamie Lee Curtis, filha de Janet Leigh), animações e até um trecho de boxe de O Touro Indomável. De tudo o que ouvimos no filme, uma coisa pelo menos é motivo de alívio: a editora do remake de Psicose (Gus Van Sant, 1998) admite que a nova sequência do chuveiro, como era de se esperar, não deu certo.

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