Sherlock vai à Rússia

NO SUBMUNDO DE MOSCOU

A embolada cultural de No Submundo de Moscou (Khitrovka. Znak chetyryokh) começa pelos créditos de adaptação do livro do jornalista policial Vladimir Gilyarovsky mesclado com a trama de O Signo dos Quatro, do inglês Arthur Conan Doyle. Prossegue com o protagonismo do diretor e teórico do teatro Constantin Stanislawsky assumindo ares de Sherlock Holmes numa investigação sobre o paradeiro de um valiosíssimo colar indiano. Em dado momento, até Tchekhov em pessoa entra na conversa.

Na trama rocambolesca, Stanislawsky (Constantin Kryukov) está preparando uma montagem naturalista de Ralé, baseada no livro de Maxim Górky. Ele é mostrado como um encenador adepto de levar “a verdade da vida” para os palcos, o que soa como uma bruta simplificação do método stanislawskiano. Para observar e bem representar o submundo de Moscou, ele convoca os préstimos do jornalista Gilyarovsky (Mikhail Porechenkov), muito íntimo do bairro boêmio de Khitrov, onde “não é preciso um motivo para matar”.

De fato, Stanislawsky circulou por Khitrov em 1902 enquanto ensaiava Ralé. O restante, porém, é mera invenção ficcional que se apropria, um tanto levianamente, da figura do diretor teatral. Ao conhecer a bela ladra Ksenia (Anfisa Chernykh), ele se envolve numa espiral criminosa que abarca assassinatos com dardos envenenados, cenários labirínticos e um misterioso vilão inglês e seu súdito deformado.

Com um pé no thriller de época e outro na comédia policial, o filme se equilibra apelando às convenções dos dois gêneros. O diretor Karen Shakhnazarov, diretor dos estúdios Mosfilm, é um cultor das formas clássicas, ainda que, como aqui, um tanto banalizadas por uma estética televisiva. No Submundo de Moscou às vezes cintila com a verve cênica russa, mas não sustenta essa centelha por muito tempo. No fundo, é um filme fechado numa redoma de passado, como coisa de outro tempo que dialoga muito pouco com o cinema contemporâneo.

>> No Submundo de Moscou está nos cinemas.

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