Mães e filhos

Sobre ÉDEN e MELHORES AMIGOS –

Dos filmes de Bruno Safadi considero ÉDEN o mais bem sucedido. Com uma concisão admirável e uma incrível harmonia de recursos cênicos, ele narra um pequeno conto de maternidade em ambiente de histeria evangélica.

Leandra Leal está grávida quando perde o marido vítima de um crime. Seu caminho de mater dolorosa vai se cruzar não só com o do criminoso, mas também com o da mulher deste, igualmente grávida. Esse encontro vai ser negociado por um pastor midiático, vivido com garra e gravidade por João Miguel.

Safadi trabalha com signos alusivos a parto, batismo, luz e dor. De alguma maneira, é mais um filme brasileiro que trata de religião, mas com uma pegada complexa, pois expõe estereótipos sem tripudiar deles. Uma poética estranha, incômoda, que me lembrou coisas de David Lynch e também de “O Bebê de Rosemary”. Um filme, talvez, sobre a perda do fôlego e a recuperação da vida.



A parceria do diretor americano Ira Sachs com o roteirista brasileiro Mauricio Zacharias (“Madame Satã”, “O Céu de Suely”) chega a seu terceiro rebento com o drama MELHORES AMIGOS (Little Men). Como nos anteriores “Deixe a Luz Acesa” e “O Amor é Estranho”, trata-se de laços afetivos masculinos sendo colocados à prova por circunstâncias externas. Aqui, porém, a homossexualidade é apenas intuída na amizade entre o garoto Jake e seu novo vizinho Tony, filho de uma imigrante chilena no Brooklyn. O pai de Jake herda um sobrado do avô e entra em conflito com a mãe de Tony por conta de um contrato de aluguel. A disputa espirra na relação dos garotos.

Mais uma vez em filmes da dupla, o que importa de fato não é tanto a linha dramática principal, mas o conjunto de pequenas observações sobre os personagens. A determinação da costureira chilena em permanecer no imóvel, a vulnerabilidade do pai de Tony em função de frustrações profissionais e, sobretudo, o contraponto entre o envolvimento dos adultos com a vida prática e a evasão dos meninos para um mundo à parte, que só eventualmente cruza com o de seus pais.

Um filme muito simples, que não deve ser desprezado, nem tampouco supervalorizado. Vale pelas pequenas nuances interessantes, especialmente nas interações platônicas dos dois amigos e na forma como Jake dissimula seu esboço de amor por Tony. Nada para ser desprezado, nem tampouco supervalorizado. Ao fim e ao cabo, é uma crônica despretensiosa sobre vínculos de afeto submersos na faina do cotidiano.

2 comentários sobre “Mães e filhos

  1. Pingback: Sobre “Passagens” e “Raquel 1:1” | carmattos

  2. Pingback: Ave Joana! | carmattos

Deixe um comentário