De Veneza com amor

O documentário Uma Gôndola para Nova Veneza, que vai estrear no Canal Brasil em 16 de setembro às 19h, suscita discussão sobre o valor dos símbolos na preservação da cultura. Nova Veneza é um município catarinense de 13 mil habitantes, quase todos descendentes de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil a partir de 1891. Uma comunidade homogênea, portanto, que mantém o uso da língua e do dialeto, além do culto à terra dos antepassados, especificamente a região do Vêneto. Ainda assim, até 2006 eles sentiam falta de um elemento que trouxesse Veneza de fato à cidade. Foi quando alguém prometeu trazer uma gôndola.

Desde que ouviu essa história, Joana Nin (Visita Íntima, Cativas – Presas pelo Coração) enxergou ali a semente de um filme. Foi a Nova Veneza conhecer seus moradores, checar a italianidade do lugar e apurar como o sonho da gôndola enfim se realizou. Foi também à velha Veneza entrevistar o construtor de gôndolas que restaurou a embarcação doada pelo governo aos “conterrâneos” longínquos.

O filme compõe-se, portanto, de um retrato de cidade e do levantamento de uma pequena epopeia. De tudo Joana conseguiu alguma imagem de arquivo significativa: o transporte da gôndola em container através do oceano, a recepção festiva na cidade e os percalços que o barco sofreria em seu novo habitat.

A gôndola se tornou um signo de reafirmação da cultura italiana em Nova Veneza, a ponto de no seu rastro ter se instituído um “carnevale” anual em que a população desfila e dança com roupas do tempo dos doges e máscaras venezianas. A gôndola, porém, não cumpre sua função básica de navegar. Fica estacionada num laguinho especialmente construído para ela, como uma princesa encastelada. Serve como cenário para fotos e selfies.

Entretanto esse aspecto kitsch não parece reduzir a importância do barco para o imaginário dos neovenezianos. É esse imaginário o que, no fundo, Joana Nin investiga usando a gôndola como “veículo”. Documentarista sensível e habilidosa, ela e seu parceiro Adenilson Muri Cunha cinzelaram uma pequena joia que diverte e emociona.

Veja um teaser:

Um comentário sobre “De Veneza com amor

  1. Parabéns para a Joana Nin, que literalmente sabe o que – e como – faz: docs. acessíveis, mas não rasos; afetivos, mas sem apelar para o dramalhão. “Cativas…” foi um dos melhores docs. a que assisti em 2013. Curiosa para ver sua gôndola navegar.

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