Homens extraordinários, filmes quadrados

Pílulas sobre 13 MINUTOS e INDIGNAÇÃO

Por 13 MINUTOS a História do século XX poderia ter sido outra. Georg Elser, operário, carpinteiro e músico de província, ativista da Frente Vermelha, planejou e executou sozinho o atentado a bomba destinado a matar Adolf Hitler em 1939. O Führer, no entanto, saiu do local 13 minutos mais cedo – e não foi possível evitar a II Guerra Mundial. O filme de Oliver Hirschbiegel conta a história desse herói da resistência, alternando os tempos entre antes e depois do atentado. Antes, a vida de rapaz atrevido que se arriscou a ser amante da mulher de um brutamontes bêbado e brutal, assim como a sua progressiva indignação com o crescimento das ideias nazistas. Depois, a sucessão de torturas e pressões dos oficiais de Hitler para que ele delatasse seus colaboradores (que simplesmente não existiam) e o seu fim no campo de concentração de Dachau.

Hirschbiegel (“A Queda!”, “A Experiência”) é diretor de estilo sóbrio e eficiente, mas sem grandes voos de criatividade. 13 MINUTOS limita-se a narrar sua história e pontuar observações sobre o avanço dos nazistas numa pequena cidade dos Alpes alemães. Percebemos a acolhida entusiástica das pessoas comuns e os mecanismos de alienação a que muitos recorreram para atravessar a maré de autoritarismo e crueldade. Nesse sentido, a personagem da escrivã dos interrogatórios, embora bastante secundária, é importante para sugerir os dilemas entre indiferença e solidariedade.

Apesar da correção narrativa em geral, alguns aspectos me pareceram obscuros. Como Elser teve acesso tão rápido e fácil à tribuna de onde Hitler falaria em Munique, cidade grande e distante da sua? E por que se deixou prender de modo tão imprudente? Como se portou o marido de Elsa depois de um certo incidente conjugal decisivo? Qual a importância de destacar o desfecho truculento do general encarregado de arrancar a suposta verdade de Elser no cativeiro? Em muito menos de 13 minutos o filme poderia ter deixado essas coisas mais claras.



Baseado em romance de Philip Roth, INDIGNAÇÃO sugere que a um jovem americano de 1951 só restavam duas opções: ou entrar para uma universidade, ou ir morrer na Guerra da Coreia. Marcus Messner (Logan Lerman), judeu ateu e filho de um açougueiro, tem a sorte de ir para uma faculdade em Ohio. Mas ali vai encontrar outro tipo de guerra, em que combaterá em duas frentes: a de suas convicções contra o conservadorismo moral e religioso da instituição; e a do seu próprio espanto perante o espírito livre de uma garota sexualmente atrevida, mas igualmente perseguida pelos dogmas do bom comportamento (Sarah Gadon).

A sequência central do filme é uma longa e tensa discussão em que Marcus enfrenta o reitor da universidade (Tracy Letts). Ali ficam explícitas as contradições entre o discurso de liberdade à americana (religiosa, inclusive) e as práticas repressivas que forjaram uma sociedade libertária somente na teoria. A recusa de Marcus é a jogar o jogo de uma convivência comunitária em que as diferenças se diluem na hipocrisia ou são alojadas em guetos. Seu herói é Bertrand Russell, mas o namoro com Olivia vai mostrar como ele ainda teria muito que aprender em matéria de emancipação. O personagem é mais interessante que o filme.

INDIGNAÇÃO foi coproduzido pela RT Features do brasileiro Rodrigo Teixeira, dirigido e adaptado por James Schamus, habitual roteirista e produtor de filmes de Ang Lee. A linguagem bastante convencional pretende nos sintonizar com a camisa de força que a família e a faculdade representam para Marcus. Esta opção torna a atmosfera mais sufocante, no bom e no mau sentido. Por vezes, queremos ver algo mais que diálogos resolvidos pobremente em campo e contracampo ou um ambiente universitário com algo mais que figurantes caminhando para lá e para cá com livros nas mãos. Nada pior para representar a caretice do que a própria caretice. E a moldura narrativa, que envolve soldados na Coreia e uma senhora em asilo de velhos, acentua as cores do melodrama para além do necessário.

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