Casamento Silencioso é um filme muito esquisito, que parece se equivocar em diversas frentes.
Primeiro, na metragem. Podia/devia ser apenas um curta-metragem com a sequência das bodas propriamente ditas. Quando a festa é interrompida por ordem de um soldado russo em virtude do luto pela morte de Stalin (estamos na Romênia de 1953), os convidados resolvem celebrar às escondidas e em silêncio total. A situação é hilariante, pelo menos nos seus cinco minutos iniciais. A rigor, só isso explica o ouro solitário que dei no quadro de cotações aí ao lado. O resto é caricatura sem graça, exageros exóticos e sugestões desperdiçadas.
O segundo equívoco é do roteiro. O filme começa e termina desnecessariamente na Romênia atual, com uma equipe de TV que chega para documentar eventos sobrenaturais no local de uma antiga aldeia. Toda a história ocorre, portanto, num flashback que não acrescenta dimensão especial à narrativa. Duas ou três referências à perpetuação dos grupos comunistas no poder não justificam a duplicidade temporal. E o fantástico sucumbe à falta de imaginação.
O filme se equivoca também como “comédia nacional”, engajando figuras supostamente típicas de uma Romênia lírica e ao mesmo tempo bufona. Por mais que haja traços culturais ciganos comuns à antiga Iugoslávia, a influência dos filmes de Emir Kusturica é tão acintosa que parece gerar um filme menor daquele diretor.
Casamento Silencioso está longe de fazer jus à boa reputação do cinema romeno recente.