Baseado em fato da crônica penitenciária da Tchecoslováquia de 1973, EU, OLGA HEPNAROVÁ (em cartaz quarta e quinta às 21h no Cine Joia) descreve com grande austeridade o desajuste e a paranoia com traços de esquizofrenia da personagem-título. Aos 22 anos, sentindo-se vítima de perseguição e inábil para estabelecer contato com outros seres humanos, a não ser as namoradas eventuais que consegue arranjar, Olga decide cometer um ato brutal para se autodestruir e dar uma lição à sociedade. Um desses casos em que a autovitimização se confunde com a megalomania.
Em contraste com seu jeito de menina frágil, ela tem um apego especial a carros e caminhões. É nesse campo que suas ações vão se concentrar, do sexo ao trabalho e à desforra.
Algumas coisas soam estranhas no quadro descrito. A liberdade com que o lesbianismo é praticado em locais públicos não parece coerente com o clima da Tchecoslováquia comunista da época. Paradoxalmente, a condição de “aleijada sexual” (como Olga se classifica) aparentemente não interfere na sua síndrome de isolamento.
Os diretores Tomas Weinreb e Petr Kazda dividiram o filme em duas partes bastante distintas, apesar da mesma fotografia preto e branco e da mesma severidade nos enquadramentos. Na primeira, que mostra as interações e não interações de Olga com seu entorno, usaram um estilo evocativo da Nouvelle Vague tcheca, bem de acordo com o início dos anos 1970. As muitas elipses e cenas interrompidas põem em risco a compreensão de vários elementos, além de afastar o espectador do drama da moça.
Na segunda parte, é a influência de Robert Bresson que transparece e leva o filme a um patamar superior. A atriz Michalina Olszanska supera então uma enorme dificuldade para expressar fisicamente a personagem, que na primeira parte se move como um autômato e exterioriza uma apatia forçada. Após a ocorrência que decidirá o destino de Olga, Michalina adquire um entendimento mais profundo do drama e credencia Olga a ser uma herdeira das sublimes e martirizadas heroínas de Bresson.